Frases


"O coração que se ganha é o que se dá em troca"Marcelino Freire



sexta-feira, 25 de maio de 2012

VII ETC Fortaleza (I)


Fotos e vídeos: Denis e Diego Akel


O ETC, Encontro de Twitteiros Culturais, é um evento que já ocorre há algum tempo no Brasil (nos moldes de outros similares que também ocorrem em vários outros países) cujo enfoque básico é o universo virtual, ou seja, falando nos tempos atuais, nas redes sociais e tudo o mais que movimenta esse infinito e assustador mundo que é a internet. Valendo-se do Twitter como ferramenta principal, os encontros visam explorar tendências e costumes do mundo digital, e perceber como esses novos parâmetros podem e estão influenciando nossas vidas.

Pois bem, até o dia 14 do mês de abril, eu ainda não sabia de nada disso. Tinha conhecimento, bem por alto, do ETC, que sabia ter alguma coisa a ver com redes sociais, mas nada além disso. E talvez continuasse com esse parco conhecimento até hoje, não fosse justamente a ferramenta que dá o eixo e base do evento: o Twitter. Não sou muito de redes sociais, dessa febre que se espalha avassaladoramente a cada dia, de viver praticamente em torno e dependente delas, como vejo muitas pessoas fazendo. Faço uso moderado do Twitter, por ele ser prático, rápido, e sem muitas frescuras típicas das demais redes (apesar de às vezes também encher a paciência). Por lá, podemos saber um pouco de tudo sobre áreas de interesse comum, referências de pessoas que admiramos, e eventos que acontecerão. Acompanho várias editoras, escritores e pessoas ligadas às letras. Foi através de lá também que me aproximei mais do trabalho do poeta gaúcho Fabrício Carpinejar, bastante celebrado e cultuado por suas frases e sentenças pungentes que coloca diariamente em seu perfil. Comecei a pesquisar mais sobre ele, assistir a entrevistas, ler seu blog, conhecer livros, e quando me dei conta, tinha o poeta como um de meus autores mais respeitados, apesar de ainda ter lido pouca coisa dele.

Ainda sobre Carpinejar, não posso deixar de citar o recente A Máquina, programa de entrevistas que o lançou como apresentador. Quando eu soube, imaginei logo: esse programa vai ser único! Sabia que o lado excêntrico e quase performático do poeta daria um tom bastante surreal e característico, tornando o programa uma experiência ímpar. E é bem isso o que pode ser visto nas noites de terça na TV Gazeta. Enfim, falarei mais sobre esse programa em um possível post futuro.

Retomando o tema, é engraçada a maneira como as coisas acontecem, como tudo parece às vezes planejado, sem que tenhamos feito quase nada para isso. Eu poderia ainda não saber o que é exatamente o ETC e sequer estar fazendo essa postagem aqui não fosse um tweet do Carpinejar, além, é claro, do fato de eu estar no Twitter na hora, em tempo hábil de saber: ele estaria aqui em Fortaleza, para fazer parte de uma mesa do VII ETC Fortaleza. Na hora, fiquei estupefato, pois seria uma excelente oportunidade para enfim conhecer o poeta gaúcho. Uma oportunidade como aquelas que aparecem em horas inusitadas e sabemos que não podemos deixar passar.

Para tornar tudo ainda mais alucinado, me dou conta de que a palestra será exatamente no dia seguinte, então não havia muito tempo para pensar, era preciso decidir logo. Por razões que são difíceis de explicar, após a euforia inicial, não me senti mais tão empolgado para ir. Então, no dia em questão, 14 de abril, há algumas poucas horas da palestra, fui incentivado por Diego, meu irmão, que ainda se ofereceu para ir comigo. Resolvi ir, sem mais ficar pensando o contrário, e ligamos para o número de informações, a fim de saber mais detalhes do evento. Foi preciso ainda mandar nossos dados por e-mail, uma espécie de cadastro, imaginei, que devia facilitar para quando chegássemos lá.
Esta edição do ETC Fortaleza, que acontecia dentro da programação de outro evento, o 2º WebFor, teria como palco o hotel Gran Marquise, que fica na Beira Mar. O debate, que traria como tema "Literatura e Cultura nas Redes Sociais" estava marcado para as 16h, mas eu já imaginava que provavelmente atrasaria. É comum a essas apresentações o início impreciso, dados os imprevistos, ou mesmo para esperar mais público. Talvez seja um dos momentos onde é educado atrasar.

Seguimos para o hotel com cerca de uma hora de antecedência. A Beira Mar é um lado da cidade onde pouco costumo ir, portanto é sempre quase como se estivesse em outra cidade; o clima praiano,  a atmosfera turística, evidenciada pelas dezenas de hotéis em sua orla; tudo contribui para tornar este lado de Fortaleza uma travessia memorável.

Nosso táxi parou bem à entrada do suntuoso hotel – soube depois que aquele era um dos hotéis mais novos dali. Fomos bem recebidos, do carro até a recepção. Próximo dela, um funcionário prontamente perguntou se estávamos ali para o evento. Concordamos, e ele nos colocou no elevador, que já sabia o caminho para o andar em questão (acabamos por nem reparar qual era). Demos em uma saleta, toda iluminada e encarpetada. Dali seguimos por um corredor, buscando alguma orientação.  Encontramos mais uma recepção, dessa vez do WebFor, o evento maior que englobaria o ETC. Acreditamos ser ali o ponto inicial, o local que validaria nosso cadastro feito por e-mail minutos antes, e nos aproximamos. Alguns atendentes, que pareciam muito ocupados, com inúmeros papéis em suas mesas, vieram ao nosso auxílio. Nos identificamos.

Nossos nomes, porém, não constavam na lista.

Indicaram uma segunda lista, atualizada com os nomes mais recentes. Procuraram novamente. Folhas e mais folhas com nomes. Nada. Estranhamos. Diego disse que mandamos o e-mail, e que até tínhamos ligado para confirmar, tendo falado com a Telma. Mas onde estaria essa Telma? Ninguém ali parecia conhecê-la. A solução foi fazer um novo cadastro para nós. Perguntaram para qual oficina seria. Oficina? Pensei. Não sabíamos de nenhuma oficina, uma vez que estávamos ali mais pela mesa composta pelo Carpinejar. Explicamos isso, e, por via dos fatos, por já estar ali e tudo, pedi para ver a programação das tais oficinas. Imprimiram um página. Com a folha em mãos, vi em letras vermelhas a programação, e não entendi bem por que eram chamadas de oficinas, uma vez que pareciam apenas mais palestras. A uma primeira vista, não nos interessamos por nenhuma delas. Falaram para resolvermos logo se iríamos ou não a alguma, pois precisavam fechar os nomes. Pedimos um tempinho para avaliar com calma e deixamos a salinha, indo a uma área externa, ao ar livre.

Ali, olhei e considerei novamente a programação. Continuamos, porém, sem ânimo para nada daquilo. Nosso foco ali era mesmo o Carpinejar. Seguimos o caminho à nossa frente até chegar onde achávamos que seria a palestra. Havia no final desse trajeto uma tenda enorme, montada e climatizada para o evento. Portas envidraçadas na entrada, ar-condicionados, centenas de cadeiras, telão ao fundo e tantas outras parafernálias. Era um espaço amplo, onde àquela hora já acontecia uma outra palestra. Quatro homens em uma mesa. Um deles, de  microfone em punho, discursava amplamente. O telão o exibia em close. Era um local bastante grandioso, até demais, pensamos, para a mesa da qual Carpinejar faria parte, que imaginávamos ser mais simples, reservada, tranquila, mas se seria mesmo assim, naquele ambiente, só nos restava esperar. O tema em questão pelos quatro sujeitos não parecia muito convidativo, então preferimos ficar nas imediações da tenda, observando pombos voarem entre os prédios em volta e fotografando os arredores (uma mania que temos). Voltamos para o interior algumas vezes, mas o debate lá não parecia sequer perto de acabar. Mais minutos se passaram. Faltava pouco mais de dez para as quatro da tarde, hora marcada para a mesa que tanto aguardávamos.

Eis então que uma pessoa da produção surgiu de repente e falou conosco, lá do lado de fora. Disse-nos, com grande efusão, que logo começaria a palestra com o embaixador da Venezuela no Brasil. Ficamos meio atônitos, mais pelo caráter absurdo, como se estivéssemos ali esperando o senhor embaixador. Isso, porém, me abriu os olhos, e quase de última hora, tive uma luz: seria mesmo ali o local da mesa de Carpinejar? Não víamos qualquer sinal de que começaria – muito pelo contrário, os palestrantes da tenda pareciam ainda muito animados a continuar falando. Além de que aquela tenda parecia mesmo o local propício para abrigar a palestra do embaixador da venezuela no Brasil, um acontecimento pomposo, sério, diferente de "apenas" um grupo de twitteiros convidados. Intrigado, voltei a olhar a programação, mas dessa vez não para ver as oficinas. Li o nome "Fabrício Carpinejar" e imediatamente as demais informações da mesa, até perceber o nome da sala: Capitólio. Estávamos mesmo no local errado! Passavam alguns minutos das 16h, imaginei que talvez a mesa já tivesse sido iniciada e que Carpinejar já podia até mesmo estar com a palavra. Nos apressamos a sair dali. De volta ao corredor, e à saleta encarpetada, onde tínhamos passado na hora que não acharam nosso nomes, nos deparamos, sem muita dificuldade, com o nome "Capitólio" estampado numa parede a um canto, na esquina oposta à que entramos. Não poderia ser mais fácil; era ali, afinal.

Entramos e nos surpreendemos. Ambiente refinado, organizado e aprazível. Uma sala vistosa, que lembrava um anfiteatro. À entrada, algumas mesas dispostas verticalmente. Em uma delas, vi livros de Carpinejar sendo vendidos, em outra, havia o que parecia ser outro espaço para inscrições. A seguir, várias cadeiras arrumadas em filas e colunas. Além delas, uma mesa retangular, coberta com um pano preto, encimada por quatro taças d'água. Tranquilidade e silêncio, que era o que provavelmente não acharíamos na tenda, havia de sobra ali.

Vimos um dos palestrantes (José Luiz Goldfarb, como descobriríamos depois), já sentado, em um dos lugares da mesa. Ele parecia simpático e receptivo, e foi bem o que demonstrou no decorrer da palestra. Naquele momento, Goldfarb estava atrás de seu macbook, e parecia invariavelmente ocupado.

Nos apresentamos às mesas de inscrições, onde fomos muito bem recebidos. Demos nossos nomes, e desse vez não deu outra: lá estavam eles! Recebemos crachás identificados, e pastas com papel e caneta. Comentei com Diego que parecíamos quase jornalistas especialmente convidados para cobrir o evento. Diego disse que isso era uma prática comum neste tipo de evento, o que desmonta minha fantasia e só demonstra minha inexperiência na situação. Quem também nos acolheu, com grande simpatia, que depois descobrimos ser a mediadora da mesa, foi Glória Diógenes. Ela nos disse que apenas estavam esperando o Carpinejar chegar para dar início, então buscamos logo bons lugares. Tivemos plena liberdade para escolhermos onde sentar, uma vez que quase todos os lugares (cerca de 100) ainda estavam livres. Fomos bem para a frente; tínhamos o objetivo de fazer algum registro, através de fotos e vídeos. Havia um tripé com uma câmera, armados bem à frente da mesa, juntos a um notebook preparado. Soubemos depois que a ideia era fazer a transmissão do debate ao vivo pela twitcam, como – também soubemos depois – aconteceu na edição anterior do ETC, mas isso acabaria não dando certo dessa vez, como direi mais adiante.



Aproveitei esse breves momentos antes do início para já escrever algumas observações sobre o lugar, nas muito bem-vindas folhas de papel que recebemos. Continuavam todos à espera de Carpinejar. Já se aproximava das 16:30. Felizmente o atraso básico que eu imaginara tinha se consolidado, mas já começava a se tornar abusivo. O lado bom é que mais e mais pessoas foram chegando, enchendo o auditório. Em certo momento, pediram aos que ainda não tinha feito a inscrição (que dava direito ao crachá e tudo o mais), para fazê-lo. Percebi então que quase todos não tinham feito, uma vez que boa parte das pessoas se levantou. Ainda bem que nós já tínhamos feito desde casa!



E continuava o suspense quanto a chegada de Fabrício Carpinejar. Alternei constantemente olhares entre os organizadores do evento e a porta de entrada da sala, à espera do poeta gaúcho. Então, passando um pouquinho das 16:30, a mediadora, Glória Diógenes, já à mesa com os demais palestrantes (o jornalista Plínio e o professor Goldfarb), decidiu dar início aos trabalhos. Ela começou a apresentá-los ao público, começando com Goldfarb. Em vez de repetir aqui títulos e rótulos, praxe nesse tipo de introdução, colocarei um link que expõe um pouco mais sobre eles, deixando assim que cada um fale por si. Vejam abaixo:

Glória Diógenes

José Luiz Goldfarb

Plínio Bortolloti

Fabrício Carpinejar

Precisamente às 16:37, ouvi quando alguém da produção do evento disse, lá de trás, que Carpinejar já estava no hotel. Nesse meio tempo, já estava até brincando com Diego, dizendo que até então ainda não se sabia se Carpinejar realmente existia, no sentido de que só o tínhamos visto em entrevistas e tal, e de repente estávamos ali à espera dele. Parecia ilusório demais. Era quase como se achássemos que ele fosse apenas uma invenção...  da máquina, talvez? O fato é que a notícia da chegada de Carpinejar ao hotel nos jogou de volta à realidade. Mesmo sem ainda termos visto o poeta, uma coisa já era certa: ele realmente existia. Passaram-se mais uns minutos, nos quais Glória continuou a apresentação e logo depois, em um momento onde eu mais uma vez alternava olhares entre a mesa e a entrada da sala, vejo finalmente a chegada do poeta de óculos vermelhos com poesia na cabeça, literalmente falando. Ele assumiu sua cadeira, em meio a uma gigantesca salva de palmas. Sorridente, o poeta agradeceu. Com a mesa enfim completa, Glória continuou fechando as introduções dos demais, falando um pouco de suas áreas de atuação e trabalhos.






Carpinejar mal se juntou à mesa e já chamou atenção. Enquanto Glória passou a palavra a Goldfarb, e este começou a falar, o poeta gaúcho de repente pegou um pacote com algo amarelo, que já trazia à mão desde sua chegada. A uma primeira vista, achei ser um saquinho de batata fritas ou algo similar. Em se tratando de Carpinejar, tudo seria possível, pensei. Vai que ele não tinha almoçado. Mas era algo ainda mais louco e incomum que isso. Eram balões! Balões amarelos, com um sorrisinho estampado! Sentado à mesa, ele encheu um e mandou com um soco na direção do público. A reação a princípio foi de choque e espanto, mas depois todos caíram na brincadeira e ficaram jogando os balões para o alto. Com certeza foi um gesto bastante ousado, mas que descontraiu a todos, e preparou para o caloroso debate que estava por vir. Não sei se isso é costume em suas palestras, mas de cara já colocou todos no clima e no astral do poeta, ao desarticular um pouco toda aquela seriedade de evento, fazendo com que as pessoas sorrissem. Foi quase como um mergulho na infância, onde correr atrás de balões era lei.







O vídeo a seguir mostra um pouco das palavras iniciais de Goldfarb:





A palavra foi então passada de Goldfarb a Carpinejar. Ele não poupou o pobre microfone. Sua voz em segundos encheu a sala, e quase não se ouviu mais nada além dela. Rapidamente tornei a empunhar a câmera e comecei a gravar as efusivas palavras do poeta gaúcho. Era por causa dele que estávamos ali, afinal:







Bom, optei por dividir essa postagem em duas, pois havia muita coisa da qual queria falar, nesta minha pequena releitura do evento, além das fotos e vídeos. Continuarei na segunda parte, contando mais detalhes e o desfecho, a hora que enfim conseguimos trocar algumas palavras com Carpinejar.

Obrigado a todos que leram até aqui e até a parte II!