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"O coração que se ganha é o que se dá em troca"Marcelino Freire



sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Bienal do Livro do Ceará 2017 - dia 5 - Horácio Dídimo, Daniel Diaz, Isabel Lustosa e Mary Del Priore (18/04/2017)



Foto capa: Denis Akel, montagem de imagens via Google
Fotos postagem: Denis Akel

Hora da quinta postagem desta longa série, de minhas vivências da Bienal, ocorrida em abril último. Aqui o foco serão principalmente duas palestras, a primeira centrada no professor e poeta Horácio Dídimo, a outra na historiadora Mary Del Priore. Antes de começar, trago o recorte que escrevi no dia em questão, 18/04/2017, tão logo cheguei em casa:

"Quinto e intenso dia de Bienal hoje. Topei com Valter Hugo Mãe por acaso na entrada. Uma conversa rápida, enquanto ele flanava pelos cordéis com grande interesse. Perguntei do ramo que segurou durante toda a conversa com os índios, no dia anterior: "Era um presente que me deram, queriam que eu guardasse". Deixei Valter, que então começou a ser notado por outras pessoas, sobretudo os próprios cordelistas.

Tive o privilégio de ter assistido aquela que já considero uma das melhores palestras desta Bienal, a conversa com Horácio Didimo e Daniel Diaz. Tinha ouvido falar de Horácio mas ainda desconhecia sua obra. E à medida que ela foi comentada, exposta, fui me maravilhando, pela poesia tão simples, tão precisa, tão necessária. Por trás daquele simpático senhorzinho, ardia uma alma poética de raro brilho, de uma humildade sem tamanho. Mas havia mais algo que ajudou a agigantar ainda mais esta mesa: muitas crianças. Os pequenos comentavam, brincavam, perguntavam ao poeta, cada um à sua maneira, perguntas de uma pureza única. Nada de perguntas gigantes que sempre se perdem no meio, as crianças eram diretas, rápidas. Tiravam do poeta a objetividade que sobrava de suas poesias. Tudo de maneira tão doce e sincera que era difícil não sorrir a cada pergunta ou a cada vozinha que ainda mal se fazia ouvir mas já se mostrava curiosa. Daniel, que ilustra livros do poeta, falou de inspirações e motivações e como a obra de um favorece a do outro. Percebi uma forte ligação entre eles.

Tive ainda a oportunidade de conhecer o professor Stelio Torquato, que está com um belíssimo e amplo trabalho na área dos cordéis, é super simpático e me deu uma pequena aula sobre povos e diferenças linguísticas. Poderia tê-lo ouvido por horas.

Para finalizar, peguei um pedaço da badalada mesa principal da noite, que trouxe as historiadoras Mary del Priore e Isabel Lustosa. Auditório quase lotado para uma esclarecedora conversa sobre a arte de se pesquisar e escrever sobre vidas, sobre épocas, e de como isso vem mudando ao longo dos anos. Falou-se ainda da importância da literatura, dos memorialistas brasileiros, que ajudam a transparecer um Brasil bem diferente do comumente retratado. 

Um dia de amplo movimento, de lá para cá, de uma sala para outra, um lanche aqui, um conhecido ali. É uma energia boa, das pessoas que vejo transitarem, dos diálogos que entreouço vez ou outra. Estão felizes. Esta bienal se mostra cada vez mais a Bienal da amizade."

Escrito e publicado originalmente em 18/04/2017, no Facebook.

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Era uma terça-feira. Após toda a diversidade trazida pelo passeio no dia anterior, com Válter Hugo Mãe e os índios Anacés, era preciso voltar ao Centro de Eventos, às paredes de concreto. Infelizmente não se faz uma Bienal apenas fora da bienal. Até este dia, eu ainda não estava muito certo de vir todos os dias ao evento, mas acabava sempre sendo movido pelas descobertas que fazia lendo a programação, que por ser tão confusa e cansativa, sempre fazia na noite do dia anterior, acolhendo prováveis coisas a ver no dia seguinte, como falei na primeira postagem desta série.

Como geralmente saía de lá tarde da noite, e demorava a dormir revendo as coisas do dia e planejando o próximo, nunca cheguei a frequentar as manhãs da bienal. Seria desgastante demais ficar o dia inteiro e felizmente as programações mais interessantes para mim aconteciam sempre no período da tarde/noite. Para este dia, haveria pelo menos duas palestras que me atraíram, uma com Horácio Dídimo, Ângela Gutierrez e Socorro Acioli e outra com a historiadora Mary Del Priore. Era um momento interessante para finalmente conhecer de perto Horácio, do qual ainda só tinha ouvido falar de livros e artigos, bem como também ouvir um pouco mais de Mary, que já tinha visto algumas entrevistas. Tudo isso se daria a partir das 16h.




Havia algumas outras coisas que poderiam ser bacanas no início da tarde, e me esforcei para pegá-las, saindo de casa no fim da manhã, às pressas, sem almoço, comeria qualquer coisa por lá. Veio o sol do meio-dia, na dura caminhada até a parada de ônibus. Enxuguei o suor, e me refiz nos breves minutos de ar-condicionado do coletivo, até me ver novamente ante a quentura, na breve caminhada até o Centro de Eventos. Cheguei de todos estes atropelos suando, louco para me recompor num gole d'água ou mesmo uma lavada de rosto. Antes que pudesse pensar muito, tive logo à entrada do prédio uma inusitada surpresa, ao ver ninguém menos que Válter Hugo Mãe vagando tranquilamente pela praça do cordel.

Nenhuma fila ou tumulto à sua volta, apenas o escritor fazendo sua feirinha de folhetos. Aproveitei o momento para conversar com ele, falando brevemente sobre o encontro com os índios, de como lhe impactou tudo aquilo e perguntando o que significava o ramo que manteve às mãos durante toda a celebração: "Era um presente que me deram, queriam que segurasse, uma homenagem à tribo". Comentei mais qualquer coisa sobre as palestras dele, da mesa com Marcelino Freire e quando o escritor voltava a Portugal, que seria naquele mesmo dia. Segui meu caminho, e ao deixar Válter percebi a aproximação de várias outras pessoas, que só agora pareceram notá-lo. Vi de longe quando os cumprimentava e já posava para inúmeras fotos. Um momentinho bacana, inesperado, que jamais estaria na programação, mas já me recolocou nos trilhos, ao pegar um pouco dessa energia, da figura do escritor português. As coisas que pensei em ver e que motivaram a pressa? Abri mão, o momento com Válter já foi uma boa recepção, um respiro emendado ao desgaste que foi a chegada naquele dia.








Almocei um prato de massa, do mesmo local dos dias anteriores, o melhor custo benefício, ante os outros, pelo que pude ver numa olhada rápida. Rodei um pouco pelos corredores, movimento moderado de pessoas. Neste dia, haveria outra boa novidade, eu não estaria sozinho, encontraria uma amiga, que conheci nos fluxos literários, uma presença que muito agregaria neste dia. Seria ótimo ter outra opinião ao que eu visse e sentisse. Encontrei-a minutos antes do início da palestra de Horácio, em meio à praça do cordel, e fomos direto escada acima, rumo ao auditório.





MESA (16h) - Horácio Dídimo e suas doces teias poéticas ( Horácio Dídimo / Daniel Diaz) Mediação: Kelsen Bravos




Para minha surpresa, a programação foi alterada e agora não me recordo o motivo. Além de Horácio, constava no folheto a presença das escritoras Ângela Gutierrez e Socorro Acioli, mas lá só estavam Horácio e um rapaz que eu até então desconhecia. A mesa foi anunciada por uma apresentadora, e o rapaz se revelou ilustrador, Daniel Diaz, que pelo que entendi começava a trabalhar com o poeta, dando vida ao texto de Horácio, na forma de desenhos e imagens. Tomamos dois dos muitos lugares livres, (havia pouco gente) mas chamava a atenção a farta presença de crianças, nas primeiras fileiras. A mediação ficaria por conta do professor Kelsen Bravos, que leu breve biografia dos convidados, antes de iniciar os trabalhos. Horácio e Daniel aguardavam, confortavelmente sentados, bem como as várias garrafinhas d'agua na mesa de madeira à frente deles.

Enquanto praticamente tudo o que era dito na sala era traduzido para linguagem de sinais, através de uma intérprete, Kelsen começou sondando as origens de ambos, dentro de suas obras: "O universo infantil, a infância, o que mais lhes atraía?"

"Literatura infantil é feita com naturalidade. Basta rever minha vida, Monteiro Lobato e a presença de meus netos é muito importante para meu processo"Horácio Dídimo

"Quando tive contato com a poesia do Horácio, meu trabalho ganhou uma carga poética que até então não tinha. Leio os textos dele e já os ilustro de imediato. Uso materiais simples, lápis de cor comuns"Daniel Diaz

Kelsen leu o poema "O rei quanto mais complica, mais reifica", de Horácio, do livro As Reinações do Rei. Havia no palco também uma projeção, nesse momento tomada por ilustrações do livro, de autoria de Daniel.




As muitas crianças não estavam ali por acaso, teriam papel fundamental, conduzindo perguntas e ajudando na progressão da fala, como logo ficou evidente, ao serem chamadas por Kelsen. Muito perspicazes, esbanjavam uma inocência afiada, com questões diretas, sem rodeios:

"Tem sempre uma coisa que me intriga quando vejo escritores e ilustradores, é verdade que eles vêm o mundo de uma forma diferente? Mais alegre, que toca o coração das pessoas?" – Pergunta da Lara

"Incrível, essa é talvez a melhor pergunta que já vi ser feita. A realidade vista através da poesia torna a vida mais poética, mais encantadora"Horácio

"Às vezes a vida não é tão colorida, mas temos a capacidade de transformar sentimentos em arte. Nem sempre é alegria, às vezes a dor também é combustível"Daniel 

A pequena Luísa foi a próxima a perguntar:

"De onde o senhor tira suas ideias?"

"Desde criança tenho ligação com a literatura, principalmente poesia." Horácio

É curioso que as perguntas das crianças me pareceram bem mais interessantes do que as respostas de Horácio, como se as respostas não respondessem a um terço da 'complexidade' da pergunta. Horácio me pareceu formal demais.




Falando sobre desenho, Daniel explicou um pouco de seus processos:

"Todos desenhamos desde criança, mas sempre paramos, mudamos de área, mas sempre começamos desenhando. Não me atento só à poesia de Horácio, tento abrir mais as possibilidades da ilustração. Viajo nos textos dele, vou no caminho poético que traz imagens do meu universo para compor o desenho."Daniel

Horácio completou:

"Ilustrações criativas que valorizem o texto e dêem força maior a ele" – Horácio, sobre desenhos de Daniel

"Minha literatura sempre está associada ao meu dia-a-dia. É o olhar, mas parece uma visão, é a mais profunda das coisas"Horácio

Daniel deu ainda preciosas dicas para quem quisesse se aventurar no mundo do desenho:

"Ver desenhos, observar a si mesmo, desenhar observando, tentar fazer cursos, é um sempre aprender. O desenho tá em tudo, tem que desenhar. Desenhe, observe, leia, se divirta e faça com amor"Daniel

Já Horácio homenageou os poetas que lhe influenciaram:

"Quem escreve poesia não pode deixar de ler poesia. Os poetas influenciam uns aos outros" – disse, antes de ler poema que fez em homenagem aos poetas que sempre lê, intitulado "Sete poetas". Os sete poetas eram: Bandeira, Drummond, Quintana, Pessoa, Vinícius, Cabral e Camões.

Falou-se também da dedicação e necessidade da leitura, da formação de leitores:

"Horácio implantou em nossa universidade o estudo da literatura infantil", disse uma mocinha simpática, Talita. "É de sumária importância, é o que vai formar o caráter da criança. Se ele não tivesse escrito nenhum verso, já teria feio toda a diferença, já fez muito."

"Por que estudar literatura infantil?", foi a questão levantada a seguir por Kelsen. Neste âmbito, foi citado Henrique Dídimo, sobrinho de Horácio, presente no auditório, também autor de literatura infantil, que lançaria um livro logo mais na Bienal. Kelsen falou um pouco do comportamento atual das crianças e a dificuldade de se escrever para elas, citando um exemplo de como sua filha fala com ele: "Pai, não dá spoiler!". Após risos do público, as crianças seguiram, sabatinando Horácio:

"Sua vontade de escrever vem de outras gerações?" – Pergunta da Lara

"Tinha um tio que era poeta que escrevia para um jornal no Rio. Quando minha tia fez 80 anos, ele mandou um poema pra ela. Ela disse: podendo me dar dinheiro, me manda é poesia!"Horácio

"A criança tem uma mentalidade poética, tudo o que a criança fala e diz é poesia. Se conseguirmos identificar isto, temos o poeta"Horácio

Na ocasião, lembro de ter sido ainda mencionada uma homenagem do Farias Brito ao poeta, "Dos nossos mais de 10 mil alunos...". Ele agradeceu, relembrando que lhe foi muito importante na carreira, de professor universitário. Não sei por que mas senti aqui uma ligeira propagandazinha gratuita da escola.

Também foi destaque da palestra o livro A palavra e a PALAVRA, do qual Horácio falou, sobretudo do título, das diferenças da palavra grafada com 'p' minúsculo e 'p' maiúsculo.




Kelsen citou Bartolomeu Campos de Queirós e seu Vermelho Amargo, no qual afirma que a infância é um inferno. O mediador, contudo, expôs um ponto bem interessante: "Para o recém-nascido, tudo é aprendizado, tudo é visão poética. A forma poética de se passar isso é um afago. Nunca devemos nos despedir da infância. Nunca desista da infância. Desistir da infância é desistir da poesia."Kelsen

O pouco público presente, além das crianças, também participou com perguntas:

"Quem avalia seu texto? Se é bom para criança?"

"Faço na simplicidade, sem grandes ambições, com base na palavra simplicidade" Horácio

"Fazer poesia com a simplicidade de Horácio exige ser Horácio"Kelsen

A conversa foi encerrada, em meio a muitos aplausos. Já a dispersão, marcada por inúmeros flashes dos fotógrafos e público, foi também celebrada pela criançada presente, que encheu o palco para posar ao lado de Horácio e Daniel, em muita descontração e sorrisos.






Esta palestra foi uma das mais incríveis que pude ver nesta bienal, por ter sido um primeiro contato com Horácio Dídimo, mas certamente o mais marcante foi ver tantas crianças, que conseguiam quebrar um pouco a dita formalidade do evento, ao se portarem com a naturalidade infantil, correrem daqui ali, rirem alto, serem o que realmente são. Fiquei pensando na época, e fico pensando agora, novamente, ao rever as fotos, onde estarão estas crianças daqui a alguns anos? O que levarão deste momento para suas vidas? O que Lara e Luísa estarão fazendo? O que cada um destes rostinhos, risonhos de encantamento, estarão a sonhar? Seria incrível se pudéssemos ter essas respostas.

Novamente como nas mesas e falas anteriores, mantive minha caderneta sempre à mão, registrando fatos, além de conversar com minha amiga um ou outro detalhe, era bom ter uma outra visão, um interessante complemento e, também, contraponto.

Passeamos um pouco pelos saguões da Bienal, digerindo as muitas sensações que nos invadiam, tanto nas palavras ouvidas como na vida vivida. Lanchamos, conhecemos o simpático palhaço Juá, que nos abordou vendendo cordéis, tudo dentro do clima maravilhoso dessa Bienal. Comprei os livretos, feitos segundo ele por seu pai, do interior. Não por acaso, saímos de lá direto para a praça do cordel, onde tivemos um momento muito agradável com o professor Stelio Torquato, que desenvolve um interessante trabalho na literatura de cordel, ao adaptar clássicos da literatura para o formato, e que ali lançava vários livros. O professor, além de tudo, se mostrou grande conhecedor de etimologia, a origem das palavras, e conversamos um pouco no tema, acabamos indo parar em Mia Couto e culturas africanas, bienal do livro é assim! Dali deixei minha amiga no ponto de ônibus, e voltei, a noite ainda iria longe, direto para a sala 1 do mezanino 2.


O professor Stelio Torquato e suas obras

MESA (20h) - Histórias são vidas de pessoas revisitadas ( Mary Del Priore / Isabel Lustosa ) Mediação: Jáder Santana






Meu interesse maior aqui era ver algo de Mary Del Priore, da qual já ouvira falar de outros eventos como a Flip, e também conhecer Isabel. Cheguei um pouco atrasado, já em meio a contextos armados que pareciam difíceis de penetrar, mesmo assim tentei. Nesse auditório já muita gente, como era comum nas palestras noturnas, que sempre traziam nomes mais conhecidos. Como perdi um pouco o fio condutor, transcreverei recortes brutos do que consegui captar. Era difícil estar concentrado aqui, ainda tinha muito da fala de Horácio na mente.

"Fui aluna de um grande historiador francês. É preciso se fazer perguntas sobre os documentos históricos, os historiadores deveriam ser obrigados a estudar francês, pois toda a documentação do século 19 é em francês." – Mary Del Priore


Um esboço rápido que fiz do trio


"Conde D'eu é marido da princesa Isabel" - Mary

Foi citado o livro À Sangue Frio, de Truman Capote, como exemplo de jornalismo literário.

"Hoje temos muita facilidade de pesquisa, através do google, é possível imprimir de acervos e praticamente ter os originais"Isabel Lustosa

"O olhar do historiador é obrigado a prestar contas com o que está dizendo. Os jornalistas não, escreviam crônicas do que viam"Isabel

"Os arquivos privados são uma fonte inesgotável de informação. Outra fonte fascinante são os memorialistas brasileiros. É uma excelente maneira de aproximar literatura de história. Aprende-se a contar a história do Brasil por suas memórias. Há uma preocupação com a chegada do rádio, com o cinema deixar de ser mudo. A partir desse estudo, dos memorialistas brasileiros, chega-se a outro Brasil."Mary

Foi falado também do livro de uma francesa sobre a história da loucura e da política. Infelizmente não consegui pegar o nome, do livro ou da autora.

"Li 'caricaturas' de pessoas, feitas por jornais e a partir daí surgiu o interesse de ir atrás da biografia delas. Parti do pitoresco."Isabel

"A gente ganha pouco mas se diverte. Retomar um trabalho já feito é chato, mas descobrir um caminho novo, dentro de um trabalho que só eu estou trabalhando, é maravilhoso"Isabel

"Eu não só adoro pesquisar, mas amo escrever. Me dedico muito. Não penso só nas minhas ideias, quero que as pessoas se descubram. O bacana de ler histórias é que a gente se descobre"Mary

Foi citado um Dicionário do Negro, mas não encontrei nenhuma possível informação extra sobre esse material, na rápida pesquisa que fiz para escrever esse texto.

"Escrever sobre qualquer tema? Se há documentos sobre, dá pra fazer"Mary

"Não faço ficção, sou historiadora. Há teses muito complexas sobre Tiradentes, ele era sim muito rico. Historiador precisa imaginar as cenas, para escrevê-las, mas com base no real. Seja livre em suas ideias. (questão comunista, socialista etc)"Mary

Mary falou bastante de Dom Pedro, peculiaridades de sua vida, de sua rotina, hábitos ruins, roupa: "Tocava muito nas pessoas, era um caipirão".

"As mulheres e a política?" – a pergunta veio do público.

"A mulher brasileira é machista, nós é que ensinamos aos filhos os comportamentos machistas"Mary

"Onde se arranja documentação para pesquisa o amor sentimento?" – outra pergunta do público

"Há o dicionário do século 18, há sim muita documentação."Mary

"E quanto à reforma do ensino, desobrigar a história nas escolas? Não faz sentido" – mais alguém do público comentou.

"Pra conhecer a história do Brasil, se olhe no espelho. É absurdo eliminar esse conhecimento, é esse estudo que lhe fará se perceber melhor como pessoa. Conhecimento de história é prioritário, é o que te lança no mundo"Isabel

"Não perca a esperança, esse mundo tá sendo dominado pelas mulheres, viu? Pesquisem, há muitas nas humanas, nós chegaremos lá!"Mary




A mesa foi encerrada com um desabafo, que partiu de uma professora, Zaíla. Sobre comportamentos machistas e preconceitos, ela disse ter uma obra vasta, mas nunca ter sido reconhecida, mesmo há muito tempo atuando. Disse, em tom de brincadeira séria, ter 150 anos, dando ênfase à luta que trava por um reconhecimento ainda não atingido.





Fiz algumas fotos finais, antes de deixar o auditório, da tradicional fila de autógrafos. Lá fora, como era comum após todas as grandes palestras, havia a venda de livros dos autores presentes. Em destaque, estava Histórias da Gente Brasileira, da Mary Del Priore. Passei bem longe de comprar, ainda não tinha comprado nada nesta bienal e mesmo a palestra tendo sido bem interessante, este estava fora de minhas metas, sobretudo pelo preço.





Enquanto descia as escadas rolantes, observava a redução do movimento, os espaços fechando ou em processo de fechamento, o fluxo de saída das pessoas. Era uma constante de todos aqueles dias, perceber tudo isso. Uma cena em particular sempre me detinha: a praça do cordel, àquela hora, com suas muitas cadeiras arrumadas por cima das mesas, numa composição estranha, um modo incomum de se passar a noite, pensei, mas elas pareciam bem, confortáveis, guardiãs do sono dos justos.





Um dia de muitas emoções, mais um capítulo crucial da grande epopeia que me foi esta Bienal do Livro. Desde a inesperada conversa com Válter, à maravilhosa da descoberta de Horácio Dídimo, o fascínio das crianças. Do passeio pelos estandes, ainda que não tenha comprado livros até agora, as conversas com minha amiga, e o que consegui pegar da mesa de Mary e Isabel. Eu viria logo mais a reencontrar Mary na Flicaixa, no mês seguinte, e já fiz um post sobre, aqui.

Continua no dia 6, com Ricardo Kelmer, Cleudene Aragão, Socorro Acioli e Frei Betto.

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