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"O coração que se ganha é o que se dá em troca"Marcelino Freire



sexta-feira, 15 de junho de 2012

VII ETC Fortaleza (II)


Fotos e vídeos: Denis e Diego Akel

Dando continuidade aos comentários sobre minha experiência ao ir ao VII ETC Fortaleza, nesta segunda e última postagem sobre o tema, contarei mais um pouco do que pude observar no evento. Sensações, observações, inquietações, lamentações, especulações e até provocações seguem entremeadas nas linhas abaixo.

Como falei na primeira parte do texto, tínhamos ido eu e meu irmão, Diego, que foi peça fundamental, não só me incentivando a ir ao evento, mas também me ajudando com as fotos e vídeos. Nos revezávamos nesses registros. Voltando agora a falar da mesa em si, mais ou menos do ponto que deixei do primeiro post.
Passadas as primeiras colocações de Fabrício Carpinejar, percebi que Glória Diógenes demonstrava uma postura mais de palestrante do que mediadora, e isso engrandeceu significativamente a mesa, pois ela tinha ótima sintonia com os demais, além de expor perspectivas interessantes. Reparei também que alguns fãs de Carpinejar escreviam as frases que o poeta soltava na folha de papel, tão rápido quanto ele as dizia. Em volta, diversas pessoas fotografavam a mesa, com os mais variados ângulos e câmeras. Uns poucos pareciam registrar oficialmente, outros apenas para guardar aquele momento, tal como nós. E ainda não pude deixar de perceber garçons do hotel, que entravam de quando em quando, e repunham água nas taças e serviam xícaras de café.


Na cadeira ao meu lado, alguém escrevia as frases do poeta




Era engraçado como o público ficava muito quieto sempre que Carpinejar assumia o microfone. Não era para menos, ele literalmente esbravejava. Não se ouvia nada além de sua voz, que rapidamente ganhava o auditório. Aliando a isso seu dircurso sempre pungente, temos uma maneira de cativar sem igual. Quando o microfone trocava de mão, porém, percebi uma certa dispersão por parte do público, com vozes perdidas e cochichos. Carpinejar ainda meio que 'provocou' Plínio Bortolloti, com leves alfinetadas (talvez por estar sentado ao seu lado). José Luiz Goldfarb também deu uns pitacos, do outro lado da mesa. O jornalista se defendeu, principalmente no que diz respeito a necessidade de se ter ou não um iPhone. Esse tema passaria a ser recorrente a partir de então, gerando muitas risadas – e caras sérias. Caloroso e intenso, o debate só ganhou com os ânimos 'agitados'. A opinião de Plínio, também sobre seu uso do Twitter, foi bem centrada, e partilho dela. Ter muitos ou poucos seguidores, seguir qualquer pessoa apenas 'por seguir', entre outros pontos, foram comentados pelo jornalista.






Goldfarb passou a maior parte do tempo em que não estava falando na frente de seu macbook, provavelmente tuitando. A uma primeira vista, tal gesto fez parecer que ele não estava muito interessado no que os outros diziam, embora comentasse uma ou outra coisa ao acaso. Carpinejar também, hora e outra, tomava o Blackberry à mão e não resistia ao Twitter. De certa forma, essas atitudes, que podem parecer desatenciosas, acabam por vir bem de encontro ao tema do debate, afinal, numa mesa com twitteiros culturais, seria mesmo difícil eles conseguirem resistir ao micro blog, embora Plínio e Glória tenham resistido muito bem.




Pelo que pude notar, Goldfarb estava também divulgando o evento no próprio twitter, através dos inúmeros perfis que disse controlar. A organização do evento pediu ao público que fizesse o mesmo, uma vez que não tinha sido possível fazer a transmissão ao vivo via twitcam – o que aliás achei um absurdo. Atribuíram a falha à rede de internet do hotel, mas será que um hotel daquele gabarito, com tanta estrutura, não tinha condições de preparar isso com mais antecedência? De assegurar um modo para que tudo corresse bem na hora? É certo que imprevistos acontecem, mas a esse ponto? A ponto de impossibilitar algo tão importante para um evento desse porte? Não deu para entender...

A mesa seguiu fluindo. Cada palestrante explicou sua visão das redes sociais, como elas nos influenciam e sua própria maneira de interagir e lidar com o twitter e as demais redes. O clima descontraído garantia generosas e fartas risadas constantemente. Um dos poréns foi que, devido ao atraso do início (cerca de quarenta minutos), a palestra se estendeu por horas, invadindo a noite. Muitas pessoas já tinham deixado a sala, ainda que uma boa parte do público permanecesse fiel.







Abri mão de ficar escrevendo na hora, para concentrar a atenção ao que era dito, e também observar o ambiente. Sabia que essas observações seriam tão ou mais importantes do que o que eu viesse a escrever ali. Talvez por isso eu tenha reparado que depois de algum tempo os balões mandados por Carpinejar vinham autografados. As pessoas que os recebiam (pareciam ter pedido por eles assim) já não os mandavam para o ar, já não brincavam mais. Guardavam o balão junto a si. Com a assinatura do poeta, aquilo já não era mais um mero balão. 

O bloco de perguntas e comentários do público foi deixado para o fim. De início, era feita a pergunta, seguida da resposta. Depois, não sei por que, preferiram que fossem feitas logo todas as perguntas, uma após a outra, para só depois serem respondidas pelos convidados. Isso geraria uma grande confusão, ao menos na minha opinião, pois no momento em que elas foram respondidas, vários minutos após terem sido feitas, não lembrávamos mais o que tinha sido perguntado ou quem tinha perguntado, e muitas vezes parecia que nem o próprio palestrante lembraria, não fossem breves anotações que eles faziam na hora, que deduzi serem possíveis lembretes às questões. Em meio a toda essa bagunça, não era difícil de alguma pergunta ficar sem resposta ou até de alguma resposta não condizer com a pergunta. Creio ainda que para algumas perguntas, porém, jamais se soube a resposta.





Falando deles, os comentários e perguntas são um caso a parte. Boa parte dos que tiveram o microfone por algum tempo enfeitaram, firularam e muitas vezes nada acrescentaram. Glória deu três minutos a cada pessoa. Tudo bem que tentaram ser bem flexíveis em relação ao tempo, mas acho que esse controle foi um pouco desnecessário, uma vez que muitos passaram desse limite. Posso até estar julgando precipitadamente, mas percebi uma grande carga de diálogos carregados com muito ego, como se cada pessoa quisesse se impor ante à mesa, para talvez assim conquistar mais visibilidade, também entre o restante da plateia e assim ganhar uma espécie de fama instantânea. Foram poucos, mas claro que houveram pessoas que falaram mais humilde e diretamente, que deixaram uma mensagem mais clara e óbvia, que realmente assimilaram bem o debate, e ajudaram a engrandecê-lo. Uma boa sugestão seria fazer um método que certa vez vi a filósofa Márcia Tiburi comentar: dar a cada pessoa que assiste a uma palestra o limite de 140 caracteres para se expressar. Casaria perfeitamente com a proposta do ETC, afinal!








Não nego que tivemos vontade de dizer alguma coisa. Não sei se seria propriamente uma pergunta ou um comentário. Talvez sequer fosse algo relacionado ao ETC. Pensamos em perguntar algo ao Carpinejar sobre seu programa A Máquina. Por achar que o tema fugiria à ocasião, terminamos por não fazê-la, e nos limitamos apenas a continuar assistindo.

Finalmente, ao término da mesa, o público prorrompeu em efusivos aplausos, com grande vibração. Os convidados sorriam e agradeciam. Em seguida, um grande fluxo de pessoas começou a deixar a sala. Neste momento de dispersão, Carpinejar se viu quase acuado por inúmeros fãs, que o surpreenderam (ou não) com muitos pedidos de autógrafos e fotos. Atencioso e simpático, ele atendeu a todos. Autografou, posou para várias fotos, fez tudo que os fãs pediram. Do outro lado, Goldfarb conversava também com uma fatia do público, da mesma forma que Plínio e Glória. De longe, eu e Diego observávamos essa movimentação.





Próximo à entrada da sala, algumas mesas tinham sido dispostas com lanches (salgadinhos, sucos e refrigerantes, acho). Boa parte, senão todos os que ainda estavam ali, exceto os que falavam com os convidados, se deslocaram imediatamente para lá, e em pouco tempo uma nuvem de pessoas varria as iguarias da mesa. Nós também estávamos com fome, claro – ali desde 15:30 – apenas com o almoço, mas relutamos um pouco em ir até lá comer algo. Fiquei pensando se falaria ou não com Carpinejar. Provavelmente me veria diante, mais uma vez, de mais um momento como aqueles onde nunca sabemos ao certo o que dizer, onde as palavras parecem fugir. Sabia que deveria aproveitar a oportunidade, mas hesitava. Diego insistiu para que fôssemos falar com ele. Assim, só restou continuarmos esperando, pacientemente, o contingente de pessoas em volta do poeta diminuir.



Passados cerca de quinze minutos do final da palestra, ainda aguardávamos no meio do salão, apoiando as cabeças no acolchoado que revestia as paredes, ainda à espera de uma chance de falar com Fabrício Carpinejar. Havia nesse momento apenas duas pessoas terminando de pegar autógrafos. Olhei para a mesa de lanches, agora nem que quiséssemos: tudo já tinha terminado, restavam apenas pratos e copos vazios. E no instante seguinte, percebi que enfim o poeta estava livre. Era esse o momento. Fomos em direção a ele. Cumprimentamos Carpinejar com um sorriso, o poeta nos recebeu com outro, antes de um firme aperto de mãos, quase nos abraçando, sem cerimônia, como se já nos conhecesse há muito tempo. Invariavelmente, acabei começando com o clássico clichê "admiro muito seu trabalho", meio que ainda procurando o que dizer. O poeta nos encarava tranquilamente. Senti que não precisava correr com as palavras. Não fiquei muito animado também para dizer outra coisa que também considero meio redundante: "eu também escrevo". Diego trouxe A Máquina à conversa, e juntos elogiamos o programa, perguntando, em termos, como nasceu a ideia para criá-lo. Carpinejar disse que ele buscava resgatar um pouco o ar teatral dos antigos programas de TV, algo meio trash, meio bizarro. Falou ainda do ato de se puxar a alavanca (característico do programa): "que coisa mais antiquada aquela alavanca!". Emendei dizendo que de fato pairava uma atmosfera de teatro ali, não só por seu próprio ar performático, que parece estar mais elevado que o normal, mas também pelo entrevistado, que mergulhava no clima proposto. Esses ingredientes combinados resultavam em um programa diferente, forte, que ficava na cabeça mesmo após horas, dias, de assistido. Carpinejar sorria enquanto nos ouvia, comentei ainda que sempre visitava seu blog, que traz um conteúdo ágil, direto e sem frescura, um texto bem ao seu estilo.



Após essa breve conversa, o poeta nos agradeceu pelo afeto. Nós ainda o saudamos pelas suas palavras no ETC, por finalmente poder conhecê-lo, e nos afastamos. Carpinejar ainda foi solicitado por mais algumas pessoas. Eu e Diego, antes de sair da sala, porém, paramos diante da mesa que trazia os livros do poeta, à venda. Olhei todos por cima. Pensei em comprar algum. Imaginei que estivessem bem caros, dada a presença do autor. Dei-me conta de que ainda não tinha nenhum livro dele, apesar de já conhecer bem alguns. Contudo, talvez fosse melhor deixar para comprar numa livraria. Diego incentivou-me a comprar. Perguntei os preços, para me situar. Até que não pareciam tão exorbitantes. Mas naquele momento nenhum me pareceu muito atrativo, até que vi aquele seu livrinho que tinha nascido no Twitter. Reunindo frases do poeta publicadas no micro blog ao longo de 2009, este livro praticamente inaugurou um novo gênero. Ainda não o tinha folheado, mas sempre fui curioso para fazê-lo. Perguntei o preço: vinte reais. Não estava tão caro, afinal. Tirei a nota do bolso. Carpinejar ainda estava por ali – ou seja, eu ainda teria a chance de conseguir um autógrafo. Mas será que eu queria mesmo um autógrafo?

Enquanto ponderava essa questão, Glória Diógenes, mediadora da mesa, falou brevemente conosco, perguntando se tínhamos gostado. Elogiamos o debate, dizendo que tinha sido nossa primeira vez no evento, e que tínhamos adorado, principalmente das partes onde os ânimos esquentaram. Ela comentou, enquanto ríamos os três, que geralmente não costumam ser tão calorosos como este, e ainda falou um pouco sobre a edição passada do ETC, onde tinham recebido a escritora Ana Miranda.

Voltando ao livro que tinha acabado de comprar, dei uma breve folheada. Continuava pensando no autógrafo. Carpinejar já tinha falado conosco, valeria a pena tentar falar com ele de novo somente para conseguir sua assinatura? Comecei a me lembrar do dia em que fui ver uma palestra do Walcyr Carrasco, que também teve sessão de autógrafos. Tal como naquele dia, fiquei imaginando que a maioria das pessoas que falaram com o poeta provavelmente tinham pegado seu autógrafo, mas quão profunda realmente tinha sido a experiência para cada uma dessas pessoas? Teriam pegado o autógrafo apenas para dizer que conseguiram, para apresentá-lo como um "troféu"? Ou havia um quê a mais, uma real admiração? Sabia que nenhuma dessas perguntas podia ter uma resposta muito clara, tampouco lógica, uma vez que em momentos como aquele tudo ocorre em segundos. O fato é que não tive mesmo muita vontade de lhe pedir o autógrafo. Não estava ali com aquele intuito. O contato com Carpinejar, a oportunidade de ter estado ali assistindo àquele belo debate já me bastavam. Num último momento, ainda mantive o livro e a caneta junto ao braço, e me coloquei ao lado do poeta, que agradecia ao vendedor que vendera seus livros ali (ouvi ainda quando este lhe deu um cartãozinho, dizendo que onde quer que ele fosse palestrar, que o chamasse e ele iria). Estava com o livro e caneta prontos, mas não com a vontade. Por termos conseguido falar tranquilamente com ele, e ainda sobre um tema bem avesso ao discutido na mesa, eu já me considerava "autografado". E não deu outra: após receber alguns presentes dos organizadores do evento e de José Luiz Goldfarb, que ainda estava por ali, Carpinejar deu-me as costas, fazendo-me literalmente ler o que estava escrito em sua cabeça, e deixou a sala Capitólio.

Sem mais ter o que fazer ali, nos dirigimos também para fora do hotel. No saguão, Plínio ainda conversava com alguém. Pensamos em cumprimentá-lo, mas acabamos passando direto. Uma agradável música, tocada num piano, no fundo do salão, chamava atenção. Não sei como ainda pude percebê-la, uma vez que estávamos quase em êxtase. Primeiramente pela enorme carga de informação recebida (muita coisa que queria comentar com diego e ainda não tinha tido chance) e também, claro, pela fome exagerada que agora nos corroía. Já passava das 20:30.

Em casa, com energias repostas, passamos o resto do dia ainda eufóricos com tudo o que tínhamos absorvido. Comecei quase de imediato a esboçar as primeiras linhas de ambas estas postagens, que viria a continuar nos dias seguintes e só conseguiria finalizar agora em meados de junho.

Agora, já passados alguns meses deste ETC, e quase às portas do próximo, é possível refletir alguns pontos. Os palestrantes destes eventos geralmente saem de um para outro, sem ter muito tempo para 'digerir' o que passou, de perceber o que eles de fato realizaram. Naquele dia, no auditório, além da mesa composta por eles, além da presença de Fabrício Carpinejar, havia um público, do qual muitos quiseram aparecer e outros mal se fizeram notar, mas todos contribuíram, à sua maneira, para que o evento transcorresse como transcorreu. Para alguns, talvez tenha entrado por um ouvido e saído pelo outro, para outros, fez a diferença. Essas sensações me lembram, novamente, de alguma forma a palestra dada por Walcyr Carrasco na II Feira do Livro Infantil de Fortaleza, da qual comecei a falar neste post.

Enfim, eu tinha planejado fazer um breve texto aqui sobre o encontro, mais para falar de Carpinejar, porém a mesa inteira foi enriquecedora, de uma maneira que eu talvez não esperasse. Goldfarb, Plínio e Glória se mostraram muito simpáticos em contatos que fiz com eles via Twitter após essa edição do ETC. Agradeço pelos comentários e elogios que fizeram a essa minha iniciativa. Como falei, não conhecia ainda nada deles, e passo agora a ter essa oportunidade, impulsionado por suas palavras e guiado pelos seus blogs (ou perfil de Twitter, no caso de Goldfarb!). Se há mais algo que posso deixar ainda aqui, são os agradecimentos a eles, a toda a equipe que faz o ETC, e também a cada uma das pessoas que esteve ali naquela hora, e ajudaram a compor aquele cenário. Em particular, um obrigado especial ao meu irmão Diego Akel, que me motivou a abraçar essa oportunidade, sem o qual depois só teria me restado lamentar, caso não tivesse ido.

Não posso deixar, ainda, de mencionar os perfis dos palestrantes que fizeram essa edição do evento:

Glória Diógenes – @gloriadioge
José Luiz Goldfarb – @jlgoldfarb
Plínio Bortolloti – @plinioce
Fabrício Carpinejar – @CARPINEJAR
Albanisa Dummar (@albanisaL), ela estava lá, mas não chegamos a conhecê-la. Soubemos depois que é a responsável pelo Armazém da Cultura, que abraçou o ETC aqui em Fortaleza.

E também o meu e de meu irmão:

Denis Akel – @DenisAkel
Diego Akel – @cineakel




E um grande abraço a quem leu até aqui!

2 comentários:

  1. Cada um tem o seu tempo, Denis; seu texto vem com atraso, mas em dia.

    Abraço,
    Plínio

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  2. Obrigado, Plínio, um prazer ter seu comentário.

    Grande abraço!

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