Frases


"O coração que se ganha é o que se dá em troca"Marcelino Freire



quinta-feira, 19 de julho de 2012

Estreia de diário gráfico



Sempre gostei de desenhar, desde os tempos de escola, há uns quinze anos atrás. Acho que fui diretamente influenciado por meu irmão, Diego Akel, que sempre demonstrou grande interesse nesta arte, desde muito cedo, até canalizar, mais recentemente, toda essa força, de certa maneira, no estilo voraz com o qual conduz seus atuais trabalhos com cinema de animação.

Meus desenhos não eram lá essas coisas, mas chamavam alguma atenção, ao menos na época da escola. Gostava de criar personagens caricatos, cartoons, de alguma forma similares aos que sempre via Diego desenhando. Chegava até a fazer algumas historinhas em quadrinhos, despretensiosamente. Mais ou menos nessa época (oitava série/primeiro ano) fui desenvolvendo um estilo de alguma maneira geométrica, um gosto por formas e simetrias, ainda que não me dando conta exatamente disso. O tempo foi passando, e, por alguma razão, acabei não levando o desenho tão adiante. Talvez pela força com a qual a literatura chegou até mim, talvez por certa acomodação ou talvez simplesmente por preguiça.


Diário gráfico, como o próprio nome já diz, é um diário visual, um caderno portátil, construído de imagens, das maneiras mais variadas possíveis, geralmente para uso de artistas gráficos ou tão somente pessoas que desenhem com frequência. Lápis, caneta, nankin, colagens, recortes, tintas... a única regra é não ter regras. As páginas são de um papel especial, próprio para este fim, que podem aguentar firmemente todo o carnaval que ocorrer sobre elas.

Já o diário gráfico da imagem-título do post, porém, me foi dado por Diego há talvez quase três ou quatro anos. O fato de ele ainda estar sem uso até pouco antes da ideia de escrever esse post demonstra um pouco do que quero comentar aqui. Antes do dito diário, contudo, eu já havia pintado algumas coisinhas. Por volta de 2008, Diego, já com uma carreira como ilustrador/artista visual/animador, começou a pintar. Comprou muitas tintas, telas e iniciou uma produção intensa. Vendo todo aquele movimento de telas, pincéis e cores, tive vontade de tentar também, e fiz algumas experimentações nessa época, mas essas ficarão para um post futuro!

Ultimamente, ando disposto a variar cada vez mais os dias, então, olhando para o diário gráfico, quase esquecido no alto da prateleira, perdido entre dezenas de outros livros, decidi fazer algo a respeito. A decisão, porém, veio uns dez dias antes da ação propriamente dita. É incrível como às vezes queremos fazer algo mas somos involuntariamente deslocados a outras coisas e quando vemos, lá se foi passou mais um dia!




Determinado, e sem procurar pensar muito no que estava fazendo (ajuda a fazer as coisas mais no impulso, sem grandes planejamentos e parâmetros), no início desse mês, tirei o diário da prateleira, tomei algumas tintas e pincéis emprestados com Diego, preparei a base de minha mesa e quando me dei conta já estava diante da página em branco, com pincel em punho.

Como disse, já fazia quase quatro anos desde a última vez que pintara algo e a princípio a visão da página em branco assusta, porém, pouco depois, percebi que ela também fascina. À medida que as pinceladas iam saindo, me impressionava com suas possibilidades. Foi quase como se eu tivesse esquecido como era lidar com tintas e pincéis, quase como se descobrisse um mundo novo, bem ali naquela folha em branco. Vermelho, preto, azul, preto, ia testando as cores, percebendo as nuances, sentindo as texturas.

A maior motivação inicial foi justamente brincar com as formas, uma estética que a cada dia me empolga mais. Aquela simetria que falei no início do texto, que despontou ainda na época que fazia meus desenhos nas salas de aula. Brincar com entrelaçamentos, enviesados, quebrar e desconstruir o olhar. E assim fui tentando conduzir os pincéis, que muitas vezes pareciam ganhar vida própria e seguir por caminhos diferentes, chegando a resultados não menos interessantes.





Posso dizer, depois de fazer duas ou três páginas, o quanto a pintura tem me feito bem. É uma sensação plácida, terna, ver as tintas aderirem, espalharem-se, criarem imagens, contarem histórias. Tudo ali, acontecendo bem diante da gente. Não é difícil, sob tais circunstâncias, perder a noção do tempo. Meia hora, uma hora e meia, vai-se a hora do jantar, mas queremos dar aquele toque que sabemos faltar. Depois, quando lavamos os pincéis, parecemos de alguma forma refeitos, libertos. Sim, pintar é uma ótima maneira de extravassar sentimentos, de expulsar agruras e aflições.

A pintura também está me reaproximando do desenho, do qual nunca deixei efetivamente de praticar, mesmo que sendo apenas um pequeno rabisco aqui ou ali. Agora, já penso em fazer ilustrações para alguns de meus textos, a começar com uns hai-kais (poema japonês) que tenho guardados aqui para publicar logo mais.





Sigo fazendo minhas brincadeiras geométricas, ou quase, ao tentar lidar com o ímpeto dos pincéis. O melhor mesmo, também diante da folha em branco, é não fazer muitos planejamentos, é agir de maneira solta, livre, sendo conduzidos apenas pelo que acreditamos.

Ver a obra depois de terminada pode ser uma faca de dois gumes. Muitas vezes, ficamos satisfeitos, outras achamos que está péssima. Na maioria das vezes, é preciso, como aprendi com meu irmão, deixar a obra 'descansar' um pouco. Deixar de vê-la por algum período, para depois redescobri-la, e assim percebê-la sob uma perspectiva talvez antes não observada. Essa 'técnica', inclusive, é muito bem-vinda para artistas em geral.





O melhor de se variar as atividades é sempre quando as intercalamos. Muitas vezes não estou conseguindo achar o ponto satisfatório de um texto, ou mesmo sem ânimo para escrever ou ler, ou fazer qualquer outra coisa que esteja habituado. O diário gráfico caiu como uma luva para esses momentos. É uma fuga, que permite que eu me perca momentaneamente em ideias e sensações que jamais conseguiria colocar em um texto. E que bela fuga! Quando, depois de uma sessão, volto às letras, as ideias estão mais claras, mais nítidas. A mente trabalha melhor, é como se tivesse sido dado um banho no cérebro!

Em meio a tudo isso, parei também para observar a maneira curiosa como as coisas acontecem. O diário gráfico me foi dado anos atrás, e algumas vezes cheguei a cogitar repassá-lo de volta para Diego, por achar que acabaria por não usá-lo. Ia pegar algum livro, passava os olhos nele, pensava "um dia vou fazer algo com ele", e assim o tempo seguia. O diário gráfico que Diego me deu pode ter tardado, mas está cumprindo – e muito bem – sua finalidade. Talvez até mais e melhor do que estaria se eu o tivesse usado na época. Percebo, então, que nunca se é tarde para descobrir ou redescobrir alguma coisa. Esse fato me lembrou muito a história de meu velho teclado musical, que redescobri recentemente, depois de quase quinze anos. Narrei um pouco deste fato nessa outra postagem.




Agora, depois me enturmar às cores básicas, comecei a combiná-las, ainda sem muito critério, mas chegando a tonalidades incríveis. É realmente um universo sem fim, que podemos e devemos verter à nossa maneira. Continuarei nesse espírito, experimentando, não só as tintas, pincéis e telas, mas tudo de diferente que porventura apareça, afinal esse é o grande barato de se viver. A folha em branco é, antes de tudo, um espelho, que termina por nos mostrar exatamente aquilo que somos, ou fingimos ser.

Vamos sempre nos reinventar.



7 comentários:

  1. Que demais!!!
    (Eu lendo aqui e me identificando a cada linha.)
    A sensação de colocar as tintas sobre o papel é esta mesmo: de expurgo, limpeza.

    Belo texto, Denis!
    Continue experimentando...
    Estou aguardando ansiosamente os teus hai-kais ilustrados! [Lembra-me Milôr *-*]

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  2. Denis,
    Achei lindos os seus trabalhos, de coração o elogio;))
    Sobretudo porque uma das minhas frustrações e nao saber desenhar, nem ter noção de perspectiva.( sou do tipo que só consegue desenhar um cubo fazendo aquele truque de fazer um quadrado dentro do outro, e depois apagar os excessos...kkkk)
    Enfim, admiro muito quem domina essa arte, porque essa nao sou eu, e queria saber fazer;))
    Minha pendência pra artes e na musica( piano clássico), , escrita( dissertação, sou péssima em narração) e mais recentemente no teatro, onde estou meio que me descobrindo.
    Enfim, sao raros os que sao como Leonardo da Vinci, que foi:pintor, ,cientista, inventor,engenheiro, etc, etc, etc...rsrsrsrrs;))))
    Parabéns pelo ser trabalho, continue assim.;)))
    Beijao!!!

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  3. Raquel,

    Obrigado pelas palavras; a identificação de ideias! Ainda estou vendo uma maneira interessante de fazer os hai-kais dessa forma, justamente pegando uma inspiração no mestre Millôr!



    Valéria,

    Muito grato por sua visita e sinceridade! Que bom saber que você está se descobrindo no teatro! Nesse post, procurei usar essa coisa do diário gráfico mais para realçar a ideia de que devemos sempre procurar coisas novas, e mesmo que não venhamos a nos tornar novos Leonardos da Vinci, ao menos temos chance de estarmos um passo mais próximo da felicidade!

    Obrigado novamente, e grande beijo!

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  4. Sim, Denis, exatamente a idéia que vc passou.
    Eu vou pisar num palco quando me formar em 2014, e quem sabe poderei pisar em outros, ainda que, jamais serei uma Fernanda Montenegro;)) rsrsrsrrs , mas isso nao nos tira a sensação de felicidade, né??;))
    Ate hoje, como aluna, fiz dois ensaios cenicos( apresentações simples, na escola, pra publico pequeno e sem ser num teatro grande, com palco) mas , mesmo assim, foram dois entre os momentos mais felizes da minha vida;)))!!!
    Ps: que linha artística seguem seus desenhos??? Ou nao estão relacionados a nenhum movimento artístico propriamente dito?( curiosidade, e vontade de aprender sobre o assunto) .
    Beijos;))

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  5. Hmm, não sei se estão relacionados com algum movimento ou linha artística, Valéria, talvez se encaixem – bem por alto – no cubismo, mas não os fiz pensando nisso, com essa pretensão (risos!). Acho que o grande barato foi começar a fazer sem saber bem onde ia chegar, descobrindo aos poucos o caminho e me deixando levar por ele, afinal já fazia um tempo que eu não praticava. Tenho, porém, algumas referências na área: entre os muitos livros de pintura que meu irmão tem, já passei um tempo conhecendo as obras de Kandinsky e Chagall, que acho incríveis!

    Que legal que o teatro lhe faz tão bem, siga firme nesse ideal! Quanto às apresentações simples, ora, a felicidade está mesmo é na simplicidade! Eu também já pensei em tentar alguma coisa no teatro, se não para atuar, talvez para escrever. Quem sabe, né? Como diria meu irmão, vamos em frente! Grande beijo!

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  6. Que pinturas expressivas filho, um jogo de cores fantásticos com linhas e formas bem definidas,sugiro que ponha para decorar seu stúdio, faz bem olhar para elas,amei...bj.

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    1. Obrigado mãe! Sim, é uma boa ideia, estava esses dias mesmo revendo esse diário, já meio soterrado entre os livros da estante, haha.

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