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"O coração que se ganha é o que se dá em troca"Marcelino Freire



quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Bienal do Livro do Ceará 2017 - dia 1 (14/04/2017, desânimo e programação complicada)



Fotos: Denis Akel

Começando agora, antes tarde do que nunca, a trazer ao blog as postagens relativas às minhas vivências e sensações da Bienal Internacional do Livro do Ceará 2017, ocorrida esse ano no período de 14 a 23 de abril. Parte destes textos já foram previamente publicados no Facebook e agora chegam aqui com leves alterações e acréscimos. Resolvi priorizá-los, ante os novos posts que devo colocar a seguir (Fresta Literária, FLIP 2017 etc).

EM MEIO AO DESÂNIMO 

Como nos anos anteriores de Bienal, eu novamente não estava muito animado para o evento, para o ritmo diário, o corre-corre atrás de livros, palestras, coisas assim, que a cada edição parece se tornar meio repetitivo, igual. Essa Bienal demorou muito a chegar, deveria ter acontecido ano passado (a última foi em 2014), e demorou mais ainda a ser divulgada e assim, de repente, já começaria no dia seguinte.

O desânimo, em parte, vem justamente daí: do certo descaso que sinto na Bienal do Livro daqui de Fortaleza. Há sempre uma demora anormal no anúncio de datas, programações e convidados, quase como se sempre pairasse uma incerteza de o evento acontecer ou não. Diferente de Bienais do Livro de outros estados, onde há bem mais informações divulgadas com meses, até anos de antecedência. Como as pessoas do interior de Fortaleza podem pensar em se programar para o evento se tudo é divulgado quase às vésperas?

Quando foi divulgada a programação, um mês antes, nas redes sociais, não vi um homenageado aparente (em 2014 foi Moreira Campos) apenas o que parecia ser o tema "Cada pessoa, um livro; o mundo, a biblioteca". Fiquei intrigado. Como fazer uma bienal sem um homenageado? Onde estava o direcionamento? O foco das discussões? O apreço por nossa literatura, tendo tantos nomes aptos a tal posição? Apesar dessa estranheza, a lista de autores convidados e palestras era bem extensa, e vi de cara nomes interessantes, como Cristóvão Tezza, Bráulio Tavares, Joca Reiners Terron, Ignácio de Loyola Brandão, Frei Betto, Marcelino Freire...

No dia da abertura, 14 de abril, estava particularmente indisposto. Não me sentia no clima, fiquei em dúvida se iria ou não. Não haveria nenhuma palestra ainda, nenhuma fala, mas de alguma maneira senti que deveria ir ao menos para já reconhecer o espaço, como se acreditasse que poderia ser diferente. Pelo menos, para já me colocar em movimento, sentindo desde o início a atmosfera desta nova edição.

CENTRO DE EVENTOS, MAIS DO MESMO

Acabei decidindo ir à Bienal nesse primeiro dia. Diego, meu irmão, foi comigo. Não estava muito animado mas à medida que nos aproximávamos, no trânsito, tentei me empolgar. Era um evento de literatura, tinha de ser valorizado, abraçado. Ver a fachada do prédio, o imponente Centro de Eventos, foi quase como voltar no tempo, direto a 2014, com aquele monte de banners de divulgação luminosos, toda aquela aura, aquele estacionamento propenso a lotar, e parte dessas memórias não foi assim tão boa, mas era impossível evitá-las.

O carro nos deixou diretamente na parte interna do lugar, adentrando o estacionamento coberto, e pela primeira vez soube como era chegar ali por aquele lado. Gigantesco e um pouco sombrio, o estacionamento mais parecia um labirinto, fácil de se desorientar. Seguindo um aparente fluxo, passamos por uma das entradas. No saguão principal, onde outrora, em 2014, ficavam enormes expositores de Moreira Campos (veja aqui), falando de sua vida e obra, ou mesmo em 2012 abraçando a relevância da Padaria Espiritual (veja aqui), agora apenas espaço vazio. A ausência da força de um homenageado fazia falta. Tive certeza de que não havia um, e isso pareceu, naquele momento, perder um pouco a identidade do evento.






Corredores, estrutura, tudo muito igual. Lá do alto, as infinitas luzinhas diretas me sorriam, ofuscantes. Eu, que já não estava muito bem, me senti ainda pior. Estava cansado daquele movimento, que quase sequer havia começado. Mesmo assim, andamos pelos estandes, reconhecendo o ambiente. Alguns extremamente cheios, com pessoas procurando e comprando livros. Desde que chegamos, aliás, vi gente saindo com livros. Mas já? Fiquei meio sem vontade de me imaginar ali revirando livros e mais livros... talvez por não estar motivado, mesmo aos sempre convidativos estandes de "qualquer livro por 10 reais". Andamos pelos extensos corredores, cujos carpetes, ainda limpinhos, já viam um movimento considerável. Não me detive a princípio em nenhum estande ou programação, era somente reconhecer. E foi mais rápido do que pensei. A imponente passarela, que se estendia por sobre os pavilhões, e da qual se tinha uma bela vista do evento, estava mais uma vez fechada (só a vi aberta em 2012).






Haveria um show para celebrar a abertura oficial da Bienal no palco principal, este na foto acima. Ficamos por lá até antes disso. Fazer um lanche, olhar o movimento, nesse primeiro momento, já foi o suficiente. O que estaria para acontecer, o que eu estaria por viver, nos dias seguintes, mal poderia imaginar.

Mas neste dia, tive uma percepção bem diferente do ambiente, me senti confinado, preso, mal cuidado. A mesma estrutura, o mesmo tudo. Talvez por conta de, de 2014 para cá, eu tenha feito algumas viagens, experimentado outras realidades, em eventos como a FLIP, Fliporto, agora não via muita graça em uma Bienal que começava tão sem graça.



PROGRAMAÇÃO EM DIA, MAS CONFUSA

Uma das primeiras coisas que fiz, ao adentrar as dependências do Centro de Eventos, foi ir atrás do folheto com a programação da Bienal. Lembrava muito bem de que, em 2014, ele não saiu no dia do lançamento, apenas um ou dois dias depois. Será que esse ano seria diferente? Atravessamos os longos corredores e pavilhões, até o saguão principal. Sobre um balcão frio de granito, estava uma pilha enorme de folhetos, a programação. Sentamos a folheá-la, para visualizar melhor o evento, o panorama das atividades.



Estava tudo lá, sim, não havia dúvida: as palestras, os espaços, os autores, os dias e horários. O problema foi como se deu a disposição dessas informações, impressas secamente no folheto de quase 50 páginas. Não havia nenhum tipo de destaque, imagem de algum autor ou qualquer coisa que descansasse a mente, de modo que folheá-lo se tornava desgastante, confuso de se achar o que se queria. Quis traçar logo um mapa geral a seguir, como geralmente faço, mas de tão maçante e repetitivo, me limitei a fazer isso a cada dia. Várias outras pessoas também comentaram a dificuldade de se ler essa programação, de se localizar as palestras ou interesses. Faltou um trabalho gráfico um pouco mais claro, harmonioso, para tornar esse material atrativo à consulta.




ESPERANÇA NOS DIAS SEGUINTES

Deixamos o Centro de Eventos quase tão desanimados quanto chegamos. A Bienal para mim começou silenciosa, tímida. Nesse primeiro dia, somente mais do mesmo, do espaço, dos livros baratos e provavelmente desnecessários, da sensação de confinamento. Fiquei esperançoso pelos dias seguintes, havia muita coisa boa vindo por aí, prometendo quebrar essa modorra, esse vazio. Já no sábado, 15 de abril, haveria algumas boas palestras, entre elas uma das mais aguardadas, com o escritor português Valter Hugo Mãe.

Continua no dia 2. 

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