Já faz algum tempo que não falo de um festival de cinema por aqui, então aproveito a recente edição do Cine Ceará para retomar o tema, ainda que brevemente. Este ano, o tradicional festival cearense completou 25 anos. Meu irmão, Diego Akel, teve um de seus trabalhos, o curta Micro-Macro, selecionado e assim decidi acompanhá-lo em todas as atividades dentro do período do festival.
Diferente do ano passado, quando ocorreu no Theatro José de Alencar, este ano o Cine Ceará retornou ao Cine São Luiz, célebre cinema aqui da cidade, que foi inteiramente reformado há pouco. A Praça do Ferreira, que abriga o agora Cineteatro São Luiz, conheceu um intenso movimento, durante as noites do festival, contando ainda com grande proteção policial, o que foi ótimo, dado que o local é meio vulnerável à noite.
Desta vez, o país homenageado foi a Espanha, que contou com inúmeras produções ao longo da programação, composta de curtas e longas-metragens. Dos filmes que consegui assistir, destaco nos curtas os trabalhos de Chema Garcia Ibarra, uma trilogia muito bem construída, de grande força visual e narrativa, que propõe uma reflexão livre e sonhadora no gênero ficção-científica. A trilogia pode ser assistida aqui. Nos longas, o exótico Crumbs, de Miguel Llansó, traz personagens incomuns e surreais, que se entrelaçam às belas paisagens da Etiópia, num enredo pós-apocaliptico que faz alusão às vivências do diretor, além de dialogar também a questão da influência de ícones na sociedade.
A sede do Cine Ceará mais uma vez foi o hotel Mareiro, na Beira-Mar. Como é um pedaço da cidade que não costumamos andar muito, foi quase como ser alguém de fora, ainda mais quando interagíamos com os demais realizadores, nacionais e internacionais. Como estou aprofundando meus estudos linguísticos, dava gosto ouvir o espanhol ser pronunciado com tanta naturalidade, e ir esboçando uma palavra ou outra, no decorrer do evento. Participei o tanto quanto pude, ao lado de Diego, aproveitando essa atmosfera, que meio que nos transformava em turistas na nossa própria cidade.
A Praça do Ferreira fervilhou durante os dias do evento, uma vez que boa parte da programação acontecia no Cineteatro São Luiz. Diariamente, as sessões começavam por volta das 19h, seguindo noite adentro, na exibição dos curtas e longas. No entorno da praça, foram montadas tendas e mesas, uma área de convivência, além da presença também de uma boa variedade dos food trucks, com pizza, cachorro-quente, espetinhos e tudo o mais o que a fome – e o dinheiro – permitissem, pois ao contrário dos ingressos, gratuitos, os preços dos lanches não eram nada convidativos.
Fotos: Denis Akel
Micro-Macro, filme em stop motion de meu irmão, foi exibido no Cine Ceará na noite do domingo. Por ser um trabalho de apenas 1 minuto, sua exibição se deu quase que numa piscadela de olhos, diante de uma sala quase lotada, o que foi um efeito bastante curioso, deve dizer. Diego reproduziu, no dia seguinte, no debate, parte do cenário usado no filme, com objetos comuns como papel de presente, cadeados, fone de ouvido etc, tendo como elemento diferencial o uso da lente micro, que dá todo o aspecto, toda a textura das imagens. Acompanhei a produção do filme, aqui em casa, e acho incrível a reinvenção que os objetos em cena assumem, a grandeza que adquirem, uma vastidão que nos faz sentir pequeninos e ao mesmo tempo gigantescos. Outro detalhe é que Micro-Macro foi totalmente feito num tablet, desde a concepção à edição final. Assista ao filme aqui.
Diego explicou ainda que cada vez mais tem investido na criação de filmes sem grandes produções e planejamentos, partindo de ideias e ferramentas simples e diretas, visando sempre um resultado mais prático, evitando desgastes e estresses, e assim conseguindo dar vazão a cada vez mais ideias e execuções. Esta é a premissa do projeto Animato, do qual Micro-Macro faz parte. Diego já fez mais de vinte trabalhos similares, com o mesmo desprendimento.
Foram ótimos e já memoráveis momentos, poder estar ali e acompanhar de perto todas aquelas ideias, todas aquelas sensações, não só na mesa de Diego, mas nas dos demais realizadores, e em todo o festival em si. Teve também suas dificuldades, muitas vezes pelo cansaço de passar dias inteiros entre as atividades, mas que foi recompensado por um enorme enriquecimento, sobretudo por interagir, como já disse, com pessoas diferentes, e por ouvir a bela língua espanhola a todo momento. Acredito que o que o Cine Ceará traz de melhor é bem isso, a oportunidade dessa vivência, de conhecer novas pessoas, novas culturas. Eu e Diego pensamos, mais do que nunca, que isso é melhor do que qualquer prêmio. Aliás, não deixa de ser um prêmio, mas um prêmio que fica, que marca, de verdade.
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