Foram dez dias ao todo, de 9 a 18 de Abril, período no qual aconteceu a nona edição da Bienal Internacional do Livro do Ceará, no Centro de Convenções aqui de Fortaleza. Esse tema gerou as últimas sete postagens que fiz por aqui, e agora é hora de dar um desfecho a ele, nas linhas que se seguem.
Na verdade, essa série de postagens não estava prevista quando a Bienal começou. Pensei no início em fazer apenas um breve comentário sobre o evento, nada muito longo ou extenso, mas essa ideia foi se transformando à medida que os dias foram passando, à medida que fui me fascinando com as palestras, com as situações, enfim, com tudo o que pude presenciar, ao longo dos oito dias em que estive presente nos corredores do Centro de Convenções.
Não há dúvidas de que essa foi a participação mais intensa que já tive na Bienal. Nas edições anteriores, ia apenas uma ou duas vezes, com poucas ou nenhuma pretensão em vista. Desta vez, contudo, foi diferente. Meu gosto pelas letras tem crescido dia após dia, o que me fez sentir muito mais à vontade entre os inúmeros estandes, como se estivesse quase em casa (mesmo no turbilhão de pessoas dos últimos dias). E as palestras então? não lembro de ter me interessado para assistir a nenhuma nos anos anteriores, mas esse ano senti quase uma necessidade de estar presente em todas que poderiam me interessar de alguma maneira.
Mesmo tendo ido quase todos os dias, ainda houve algumas palestras que infelizmente não pude assistir, de nomes como Carlos Heitor Cony e Affonso Romano de Sant'Anna, que aconteceram bem no início da Bienal, em um momento que eu ainda não estava muito familiarizado à programação. Tinha também o espaço do cordel, onde gostaria de ter dedicado algum tempo, mas só passava por ele às pressas em direção às palestras. Houve ainda uma outra palestra, com o tema Memórias de Monteiro Lobato, conduzida por Socorro Acioli (mediadora da palestra de Marina Colasanti), que muito me interessava assistir, pois ultimamente venho conhecendo melhor a obra deste consagrado escritor. O problema era apenas o desarticulado horário escolhido: 9 horas da manhã. E ainda por cima no domingo, dia 18 de abril, o último dia da feira. O fato é que se eu tivesse ido assisti-la teria de ter passado praticamente o dia inteiro no Centro de Convenções, por causa de Maurício de Sousa e Marina Colasanti, e aí sim teria sido um dia realmente exaustivo, sob todos os aspectos. Lamentei ter perdido essas programações, mas em meio a tantas, era realmente impossível assistir a tudo que se poderia querer, afinal.
Os primeiros dias da Bienal foram marcados por uma grande calmaria e corredores quase desertos. Ótimos momentos para se familiarizar entre os estandes, salas e corredores do Centro de Convenções, como falei na Introdução.
Mas falando agora sobre tudo o que vi e presenciei, devo dar o maior destaque sem dúvida às palestras. Começando com o lançamento do livro do sociólogo Emir Sader, no Café Literário O Galo de Ouro, que assisti quase que por acaso, enquanto não esperava mais que apenas a bandeja com o lanche ser servida em minha mesa. Foi um momento bastante interessante, principalmente por ter ocorrido meio ao acaso.
Em seguida, com a sensacional palestra de Ziraldo - um momento mágico por si só - tive uma imensa satisfação só em poder acompanhar de perto tudo aquilo. Foi quase como se eu estivesse assistindo à gravação de um dos ABZ do Ziraldo (ou até melhor!).
Igualmente edificante foi a ótima apresentação de Moacir C. Lopes, que tão sabiamente desvendou um pouco do árduo processo de criação de um romance; uma verdadeira aula.
Passando também pelas duas palestras de Pedro Bandeira, banhadas pelo carisma do escritor, que fascinou a todos com suas histórias, ideias e orientações, principalmente na segunda palestra, onde foi adotou uma postura quase de historiador, indo buscar na história as respostas para muitos dos temas em questão.
Depois ainda com Maurício de Sousa, que a meu ver decepcionou um pouco. O público foi recorde, a ostentação também, mas o que mais tivemos? Vi apenas o Maurício Empresário, falando sobre lucros, marketing, empresas etc a um público formado em grande parte por crianças. Não houve qualquer espaço para ele desenhar ou algo parecido - uma falha grave. É evidente que suas palavras sobre o início de sua carreira, das dificuldades até o reconhecimento, foram imensamente admiráveis, mas senti que faltou mais alguma coisa na palestra em si, porém nada que chegasse a prejudicá-la como um todo. A confusão e tumulto na hora da fila ficou marcado como a maior "bagunça" da Bienal.
Finalizando as palestras com Marina Colasanti, que na minha opinião foi um espetáculo à parte. Ela conduziu um passeio pelo universo dos livros, expondo peculiaridades e singularidades, criticando em alguns pontos, defendendo incisivamente outros, tudo com grande sabedoria e articulação. Ainda brindou a todos com a leitura de uma de suas histórias.
No fim, todas estas palestras (inclusive as que não citei aqui por não ter assistido) bem como todo o resto da programação do evento, como o espaço do cordel e a feira de livros, além da ótima homenagem à Rachel de Queiroz (cujos títulos das obras representavam boa parte das áreas), tiveram sua importância. Foi mesmo a junção de tudo que tornou a Bienal deste ano um ótimo destino a todos que se interessam pelo fantástico mundo da literatura.
Mas como nada é perfeito, claro que houveram muitos problemas e falhas, e alguns prejudicaram bastante o andamento de certas apresentações. Um dos mais memoráveis foi a péssima acústica na arena Memorial de Maria Moura. Os primeiros minutos da palestra de Ziraldo foram sofríveis de se ouvir. O som parecia muito abafado. Penso que talvez até tivesse sido melhor se ele não tivesse usado o microfone. Depois de algum tempo, melhorou um pouco, não sei se por alguma providência tomada ou se foi apenas por Ziraldo ter começado a falar mais alto. Em pelo menos todas as palestras que assisti tais falhas se repetiram, ora mais acentuadas, ora mais leves, mas o problema estava lá. Falha da produção.
Outro detalhe, que não chega a ser uma falha exatamente, mas que incomodou bastante algumas apresentações, nesse mesmo espaço, foi a tenebrosa arrumação dada às cadeiras na plateia, como comentei nos textos anteriores. Era um absurdo se sentar e não poder assistir olhando para frente, sendo preciso virar (ou o pescoço ou a cadeira) a um ângulo aceitável e mesmo assim só tendo uma visão torta da mesa, o que complicava bastante para se ter um bom enquadramento para uma foto, ou simplesmente para poder ver direito onde o convidado estava olhando. Não sei se foi por ter lotado, mas no dia de Pedro Banderia, porém, as cadeiras foram espalhadas normalmente por toda a extensão da arena. Me pergunto até hoje por que não poderia ter sido assim nas demais palestras...
A fila de Maurício de Sousa acabou virando outro problema, haja vista que não tinha sido bem estruturada e organizada. A fragilidade do espaço do ambiente nunca iria comportar tanta gente de maneira confortável, era evidente, mas penso que poderia ter havido um plano melhor para este momento que era tão esperado. O que se viu, além da confusão para arrumar a gigantesca fila, foi uma total falta de educação por parte de muitas das pessoas que a compunham. Isso sem falar no horário escolhido, que também não ajudou muito, contribuindo com um sol fulminante sobre a cabeça dos que esperavam pacientemente que a fila andasse.
E falando ainda sobre falta de espaço e estrura, posso ampliar essa ideia para o evento em geral. O atual Centro de Convenções de Fortaleza já não tem muitas condições de abrigar bem tantas pessoas ao mesmo tempo. O público presente na feira nos últimos dias foi avassalador, e era tão difícil de se locomover, como já falei anteriormente, que chegava a ser até um pouco frustrante em alguns momentos. E era bem comum perder a orientação de direção no meio daquele mar de pessoas, para poder encontrar determinado estande ou bloco. Só mesmo com muita paciência para aproveitar as ofertas relâmpago que surgiram no último dia da feira. Espero que o futuro novo Centro de Convenções, já em construção, seja realmente tudo o que se promete, e que possamos ter uma edição da Bienal mais calma e tranquila, sem essa correria e agitação caótica tão comuns às últimas edições.
Um outro detalhe curioso é que a Bienal é dita como internacional, mas só vi mesmo no guia de programação dois convidados de fora; um argentino e um cubano. Na verdade, grande parte dos convidados era cearense mesmo. Nada de errado, claro, valorizando nosso povo, mas acho que deveriam investir um pouco mais com convidados estrangeiros, para aumentar o raio de alcance do evento, além de justificar melhor o seu título.
A respeito da feira de livros, a Bienal mais uma vez cumpriu seu papel. Os 100 estandes espalhados pelos blocos traziam opções para todos os gostos, e era praticamente impossível não achar nada interessante. Muitas pessoas, contudo, reclamaram dos preços, dizendo estarem tão ou mais caros que em qualquer livraria. De fato, havia estandes bastante intragáveis nesse quesito, onde a maioria apenas folheava algo e saía logo em seguida. Mas devo dizer que no geral, ao longo dos dias, sempre houve ótimas promoções em boa parte deles, muitas vezes bem chamativas, à vista de qualque um. Foi assim que encontrei boa parte dos livros que procurava, além de achar também ótimas surpresas e oportunidades únicas, que tinham de ser agarradas. Mesmo entre os livros mais caros, também tinha materiais que não costumamos ver por aqui, que valiam o investimento. Afinal, como diz uma frase que vi recentemente em algum lugar: "Nenhum livro é caro, ler é que é um barato". Nesse aspecto, a Bienal também me foi muito significante, fornecendo grande parte daquelas que serão minhas leituras, consultas e pesquisas futuras.
Não vi, porém, como contei ao longo das postagens, muitas pessoas empolgadas com os livros. Bastava ver quantas traziam alguma sacola plástica à mão. O número era bem diminuto, e só foi aumentar - razoavelmente, ainda - nos últimos dias. Parece que o maior interesse era mesmo circular pelos estandes, olhando algo aqui e ali, mas sem se deter muito tempo em algum, ou comprar o que quer que seja. Não que todos devessem comprar metade dos estandes, mas não se via muito entusiasmo em geral, o que só comprova a máxima que o Brasil não é um país de leitores. Uma enquete que apareceu no site do evento perguntou quantos livros pretendia-se comprar na Bienal. A maior das opções, mais de 10, recebeu pouquíssimos votos. A menor, se não me engano era apenas um, e foi muito bem votada. Bom, ao menos se pretendia comprar algum! Até brinquei, imaginando que deveria era ter uma com "mais de 50", e me perguntei quantos votos ela porventura receberia ;)
O fato é que o destaque do evento, na opinião de muitos visitantes, não foi a feira de livros, ou as palestras, e muito menos os shows musicais (não falei de nenhum deles porque não me interessei para vê-los). O público gostou mesmo foi do espaço do cordel, como diz a última enquente proposta no site. Foi uma surpresa e tanto ver este resultado, que me deixou ainda mais arrependido de não ter explorado devidamente esse espaço. Mas tudo bem, quem sabe na próxima Bienal, não é? ;)
Quero ainda completar essa postagem agradecendo à minha querida mãe, Isabel Akel, que fez questão de me acompanhar ao longo desta empreitada pela Bienal. Também uma ávida leitora, sempre focada em eventos culturais, ela me ajudou em muitos momentos, entre uma dúvida referente a uma compra, sugestões de livros (entre os vários que escolheu para ela), e mesmo enquadramentos para as muitas fotos que fiz, além de ter também adorado as palestras, e cujos comentários posteriores me ajudaram bastante a poder escrever todas estas postagens.
Já meu irmão, Diego, infelizmente quase não pode ir à Bienal, pois estava às voltas com a produção de seu mais recente curta, Maria da Glória. Ele até chegou a ir um ou dois dias, para ver alguns livros de pintura, mas lamentou muito não ter podido assistir a nenhuma das palestras, principalmente a de Ziraldo, de quem também é um grande fã. A produção de Maria da Glória foi intensa, com prazo apertado, e não havia outro jeito senão mergulhar de cabeça. Eu também fiquei encarregado de ajudar no projeto, mas como também estava igualmente mergulhado na Bienal, não pude contribuir da maneira que imaginava. Contudo, dei ainda algumas ideias, e ajudei com algumas fotos que foram base para as sequências do curta. Detalhes sobre a produção podem ser vistos aqui.
Já chegando à parte final desta conclusão, que tentei fazer da maneira mais harmônica possível, devo dizer que estou bastante satisfeito, por ter conseguido traduzir em palavras tudo o que pude presenciar em minhas andanças pelo Centro de Convenções durante o período da Bienal. Jamais imaginei que viria a escrever tanto sobre este assunto, mas de certa forma quase não senti as muitas horas que me debrucei diante do computador para produzir essas oito postagens. Foi algo meio incosciente, que brotou já com essa necessidade de ser escrito. Um de meus objetivos principais com essa série é ter um registro de todos esses fatos, que acabariam fadados apenas à memória, onde muitos pormenores podiam se perder com o tempo. Ao mesmo tempo que também espero de alguma forma poder mostrar um pouco da atmosfera, da sensação do evento àqueles que não puderam ir, ou foram bem menos do que gostariam, como meu irmão.
Antes de concluir, trago ainda mais alguns vídeos da palestra de Ziraldo, pois observei que coloquei na postagem dele apenas dois, e nas demais um número visivelmente maior. Sendo esta palestra uma das mais importantes para mim, consertarei esse pequeno deslize. Lá vai uma saraivada de vídeos da palestra grande cartunista e escritor na Bienal:
OBS.: Devido à péssima acústica, a captação do aúdio ficou sofrível em alguns momentos, mas não chega a inutilizar a qualidade deste material. Para um melhor aproveitamento, recomendo o uso de fones de ouvido ;)
Ziraldo na Bienal do Livro do Ceará, visão geral do público (1) - Abril 2010
Ziraldo na Bienal do Livro do Ceará, visão geral do público (2) - Abril 2010
Ziraldo na Bienal do Livro do Ceará, trecho 2 - Abril 2010
Ziraldo na Bienal do Livro do Ceará, trecho 3 - Abril 2010
Ziraldo na Bienal do Livro do Ceará, trecho 4 - Abril 2010
Ziraldo na Bienal do Livro do Ceará, trecho 5, parte 1 - Abril 2010
Ziraldo na Bienal do Livro do Ceará, trecho 5, parte 2 - Abril 2010
Ziraldo na Bienal do Livro do Ceará, trecho 7 - Abril 2010
Ziraldo na Bienal do Livro do Ceará, trecho 8 - Abril 2010
Ziraldo na Bienal do Livro do Ceará, trecho 9 - Abril 2010
Ziraldo na Bienal do Livro do Ceará, trecho 10 - Abril 2010
Ziraldo na Bienal do Livro do Ceará, trecho 11 - Abril 2010
Para os trechos 1 e 6, basta ir à postagem III- Ziraldo.
Bom, e então chegamos ao fim, felizmente. Ou seria infelizmente? Sim, ao mesmo tempo que estou satisfetito por ter concluído esta série, sinto também um certo pesar por não haver uma próxima parte a fazer. Essa Bienal me foi imensamente importante, como se tivesse me colocado de volta aos trilhos. Ampliei largamente minha biblioteca pessoal, e as sensações ao assistir às palestras foram realmente indescritíveis, sem preço. Não consegui nenhum autógrafo, é verdade, mas acredito já ter recebido bem mais do que poderia esperar, por tudo o que vivi no evento, e até mesmo por estar escrevendo aqui estas impressões. Sei que os textos talvez tenham ficado muito extensos, muito detalhados, mas a partir do momento que idealizei essa série, senti que era exatamente assim que deveriam ser. Espero que os que tenham tido a paciência de lê-los (e de assistir a alguns dos vídeos) possam ter tido de alguma forma um pouco da sensação que tive; que possam ter se transportado, ainda que momentaneamente, para os corredores do Centro de Convenções, para o ótimo evento que foi a Bienal Internacional do Livro do Ceará 2010.
Quem quiser ver as notícias e fotos oficiais, basta ir ao site do evento.
E é isso, pessoal. Humm, quem sabe não faço uma nova série para a Bienal 2012? ;)
Nenhum comentário:
Postar um comentário