Frases


"O coração que se ganha é o que se dá em troca"Marcelino Freire



sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O Ladrão e os Cães - Frases, sentenças e citações morais



Tinha ficado de fazer essa postagem há um tempinho, desde que terminei de ler o livro, trazendo algumas citações interessantes e reflexões das páginas da história. Aproveitando esse tema, devem ter notado que, com a mudança no visual do Diálogos, tive a ideia de por um aforisma ilustre sempre em destaque, de autores que muito me influenciam, para já propor uma reflexão inicial com quem entrar no blog.

O autor do livro O Ladrão e os Cães (veja mais sobre o livro nesta postagem), o escritor egípcio Naguib Mahfuz, graduado em filosofia, além de criar um enredo rápido, nervoso, altamente denso e emocionante, inseriu também várias sentenças e citações de profunda reflexão, que – durante e após a leitura – nos fazem pensar e entender o mundo sob novos pontos de vista, expandindo nossas ideias e conceitos. Um banho de filosofia disfarçado nas páginas de um romance com ares de romance policial (além de alguns outros trechos muito bem construídos).

Após a primeira leitura do livro, onde dediquei cerca de 2 meses, fiz uma segunda leitura imediata, mas apenas para recolher essas passagens, essas citações, que percebi serem importantes demais para ficarem somente lá nas páginas do livro, aguardando uma próxima leitura. Cada vez mais tenho percebido a força deste tipo de material, e por isso decidi extrair o máximo que consegui do livro, e agora compartilho algumas com vocês, vamos lá!

"Como ouço muita coisa, mal consigo escutar qualquer coisa", xeque Ali al-Junaydi.

O xeque Ali é um dos personagens mais interessantes da trama, sem dúvida. Suas colocações sempre emblemáticas, místicas e carregadas de efeito moral o fazem uma espécie de conselheiro, que parece sempre saber de tudo, e nunca se abalar com nada. Essa colocação pode ter várias interpretações, como o fato de se ouvir muito limitar o grau de entendimento particular a cada assunto, e no fim acaba-se não se captando nenhum deles. Podemos ainda entender como o acúmulo de muitas atribulações pode nos impedir de nos dedicarmos a apenas uma com uma atenção devida, e acabamos por não fazê-las com o esmero que poderíamos.

"O meu passado ainda não permitiu que eu considerasse o futuro", Said Mahran.


Said, protagonista da história, passa boa parte dela atrelado a seu conturbado passado. Os devaneios de sua mente devastada e confusa nos fazem perceber o quão perdida uma pessoa pode ficar, se fizer do passado seu objetivo de vida. 


"Ocorreu-lhe que o hábito é a raiz da preguiça, do tédio e da morte, que o hábito tinha sido responsável por seus sofrimentos, pela traição, pela ingratidão e pelo desperdício de sua vida", narrador, interpretando Said.

Essa colocação é bem interessante, e uma de minhas favoritas. Nos faz pensar como o hábito pode trazer uma "acomodação" à vida. De certa forma, tendemos a nos acostumar muito às situações da vida, e não procurar mudá-las, o que pode causar uma repetição tediante, enfadonha. Essa acomodação gera justamente a preguiça para não procurar contornar situações que sabemos que não estão do jeito que deveriam.

"Toda luta tem seu campo de batalha adequado", Raulf Ilwan.

Raulf Ilwan tem um papel bastante decisivo na trama, como um dos principais antagonistas, além de ter sido uma espécie de mentor de Said no passado. Porém, suas ações demonstram uma mudança súbita em seu caráter, o que faz Said tê-lo como um traidor. Essa frase de Raulf traz uma reflexão sobre comportamentos, e de como exergar melhor o que está à nossa volta. Mostra um respeito e compostura, ao sugerir que tudo tem um lugar certo para acontecer, dignos de uma conduta exemplar, mas também não deixa de ter uma pequena dose de irônia.

"Um mundo sem moral é como um universo sem gravidade", Said Mahran.

Said passa boa parte da narrativa preso a seu passado e à consequência de seus atos. A frase mostra a importância da moral para haver um balanço, uma harmonia no mundo. Mesmo sabendo disso, Said parece ignorar os sábios conselhos do xeque Ali, e se deixa permanecer sem gravidade, em seu restrito e limitado universo.

"Continuamos aprendendo do berço ao túmulo, mas pelo menos comece, Said, prestando atenção no que faz e assegurando-se de que qualquer tarefa iniciada por você acarretará algum bem para alguém", xeque Ali, dirigindo-se a um Said ainda garoto.

Outra sentença bem profunda que nos faz repensar diversos valores, e, de certa forma, sobre a simplicidade com que podemos levar a vida.

" – Adeus, meu mestre.
   – Essa é uma palavra absolutamente sem sentido, seja qual for a sua intenção – o xeque se queixou. – em vez disso, diga: até mais ver", final de uma conversa entre Said e o xeque Ali.

A tranquilidade e serenidade do xeque mais uma vez se fazem notar. Adeus é realmente uma palavra muito forte, que pressupõe um abandono definitivo, uma ida sem volta. Um "até mais ver" passa a ideia de retorno, de esperança, de futuro.

"O mundo não se apercebe de quem não se apercebe dele", xeque Ali.

Outra de minhas favoritas. Essa citação pode se aplicar a todos aqueles que ainda não acharam seu lugar no mundo. Em outras palavras, aqueles que ainda não se encontraram, simplesmente não se deixaram encontrar. É como diz o cineasta Woody Allen, quando perguntado sobre o segredo de seu sucesso, respondeu simplesmente: "dê as caras". Não devemos esperar sermos notados, devemos fazer acontecer, ser persistentes. O grande publicitário e autor Paul Arden também dizia: "O mundo é o que você pensa dele. Portanto, pense nele de um jeito diferente e sua vida mudará".




"Como é maravilhoso para os ricos recomendarem a pobreza para nós", Said Mahran.

A ironia direta de Said, que se coloca entre os pobres, nessa frase é uma crítica ao comportamento das classes superiores e ao caráter da humanidade, no caso o próprio Raulf Ilwan, quando este lhe sugere um emprego simples. Propõe ainda um grande distanceamento entre classes, uma vez que constitue uma afirmação irônica mas verdadeira. Que rico recomendaria a riqueza aos pobres?


"Nenhum emprego é servil, desde que seja honesto", Raulf Ilwan.

A valorização do emprego é a evidência aqui. O emprego digno, honesto, que traz a honra a quem o exerce. Ironicamente, é Raulf Ilwan, um exemplo não muito bom de honestidade, que dá o recado.

"Você dormiu muito, mas não viu descanso. Igual a uma criança colocada sob o fogo do sol escaldante. O seu coração anseia por sombra e, no entanto, continua avançando sob o fogo do sol. Será que ainda não aprendeu a caminhar?", xeque Ali, dirigindo-se a Said.


Outro trecho de que gosto bastante! Fica bem clara a perturbação mental que se passa na cabeça de Said, e de como o xeque tenta trazê-lo de volta ao caminho do qual se desviou, sem muito sucesso. Said, por mais que soubesse, continuava a persistir em seus erros. 


Mais algumas abaixo, reflitam!


"Deus apresenta suas graças na forma que apenas a vontade d'Ele pode decidir", xeque Ali.


"Se é verdade que o homem pode ser pobre em Deus, também é verdade que pode ser rico n'Ele", xeque Ali. 


"Ele estava bastante sozinho, isolado de todo o resto das pessoas. Elas nem conheciam, não compreendiam a linguagem do silêncio e da solidão. Não entendiam que elas mesmas às vezes ficavam em silêncio e sozinhas, e que os espelhos que refletiam fracamente sua própria imagem de fato eram enganosos, fazendo com que imaginassem, falsamente, que enxergavam pessoas desconhecidas a si mesmas", narrador.



Bom, por enquanto já está de bom tamanho, em breve quem sabe colocarei mais umas. Recomendo imensamente que leiam "O Ladrão e os Cães"! 

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