É uma grande satisfação fazer uma postagem sobre esta exposição, após tê-la visitado, durante nossa passada recente pelo Rio de Janeiro! Vou pontuar o texto com fotos de um dos folhetos de divulgação, e ao final algumas imagens das obras em si (essa últimas, achadas na internet).
Há pouco tempo atrás, fiquei sabendo, graças à minha tia, de uma entrevista que Ziraldo tinha dado no Programa do Jô. Acabei perdendo o programa, mas, graças às funcionalidades da internet, consegui encontrá-lo, assisti-lo e até o usei para fazer esta postagem (ver link). Na entrevista citada, Ziraldo falou em primeira mão da exposição que estava prestes a lançar, "Zérois", com várias telas de sua autoria. Telas enormes, um fato inédito na sua carreira. Tive muita vontade de ir conferir esta exposição, uma oportunidade para conhecer mais esta faceta do Ziraldo, mas parecia realmente algo inatingível.
Mas aí veio o Anima Mundi. Diego, meu irmão, moveu mundos e fundos para conseguir ir ao maior evento brasileiro dedicado à animação, e eu, que trabalho com ele em vários projetos, iria também. Nesse tempo, eu já sabia que o Anima Mundi aconteceria exatamente no mesmo prédio onde estaria a exposição "Zeróis", o CCBB, como já falei nas postagens da série Anima Mundi. Essa foi uma feliz coincidência (inclusive, a exposição começou exatamente no dia em que chegamos, 20 de julho)!
- Fila para a compra de ingressos para o Anima Mundi. Ao fundo, a exposição em cartaz. A entrada, felizmente, é gratuita!
- Folheto com a programação do mês no CCBB — destacando os "Zeróis".
Uma vez no Rio, nos primeiros dias não tivemos tempo para quase nada além das atividades voltados ao Anima, e o máximo que vi dos "Zeróis" foram as salas onde estavam expostas as telas; do andar de baixo, de onde fiz as fotos que ilustram a postagem II- CCBB. Continuei esperando, a hora oportuna, o momento de finalmente conhecer aquilo que julguei inacessível.
Certo dia, surge uma brecha nos horários das sessões dos curtas, e finalmente corro para o segundo andar do CCBB; diante das duas portas que davam acesso à exposição. Havia uma numeração no topo de cada uma: "1" e "2". Deduzi que as telas tinha sido divididas, para ocupar dois espaços (tinham mesmo que ser, pois são muito grandes), e então entrei na primeira. Vi logo de cara uma tela do Super Homem, essa que está no topo da postagem. Era bem maior do que eu imaginava. Aproximei-me para ver melhor, as cores, as pinceladas, e foi só o que consegui ver, pois poucos minutos depois, uma das moças que tomava conta da exposição veio dizer que era proibida a entrada com mochila. Sempre estávamos com nossas mochilas a tiracolo, pois não voltávamos ao hotel até o final do dia. Não sei qual seria o problema em se entrar com mochilas, afinal não havia nada que justificasse um roubo, e ainda assim o ambiente era fortemente vigiado por pelo menos três moças e várias câmeras estrategicamente anguladas. Assim, tivemos que colocá-las no porta volumes, voltando à sala em seguida.
Antes de entrar, vi ainda um símbolo de uma câmera fotográfica riscada, na parede. Era proibido fotografar. Lamentei, mas não me alarmei - já era esperado. E ainda assim, vi várias pessoas com câmeras, escondidas em mãos cerradas e discretas.
Dessa vez, corri logo os olhos por toda a extensão do espaço, ao invés de focar em apenas uma tela. Havia dezenas delas espalhadas por todo o comprimento das paredes, com uma considerável distância de uma para outra. Algumas verticais; outras horizontais, mas todas enormes, que nos convidavam a uma apreciação mais detalhada. No centro da sala, uma mesa expositora, protegida por um vidro, reunia alguns trabalhos históricos de Ziraldo, a maioria talvez desconhecida do público de hoje. À direita, um pequeno corredor levava a uma salinha contígua, onde estavam mais outras tantas telas.
Diante daquele mundo, comecei então a exploração. Passei alguns minutos em frente às primeiras telas, observando as cores, o movimento, o traço inconfundível de Ziraldo. Na exposição, ele faz interessantes homenagens a artistas renomados como Picasso, Goya e Lichtenstein, em releituras de algumas de suas obras, colocando personagens como Capitão América, Batman, Mulher-Maravilha, entre outros, em situações inusitadas, ao fazer uma paródia às obras clássicas. O resultado ficou muito bacana, e nos propõe algumas reflexões, como conceitos relacionados à invencibilidade dos super heróis, que parecem estar mais vulneráveis, ou até mesmo quase ridicularizados, descendo do pedestal da glória para assumir um lado mais frágil, mais humano.
Dada essa primeira olhada nas telas, me debrucei sobre a mesa expositora. Ali estavam dezenas de trabalhos históricos de Ziraldo, até uma historinha em quadrinhos feita por ele aos 12 anos! Tinha também vários quadrinhos em outras revistas, dos anos 60 e 70, tirinhas diversas, e ainda muitos esboços e primeiras concepções das obras que agora preenchiam as paredes daquela sala; exatamente as mesmas composições dos "Zeróis", mas feitas em tamanho menor, em papel, com todo um estudo para como transpô-las às telas. Ali fiquei sabendo também da presença de um pintor assistente, pois havia várias anotações e indicações nos papéis. Paulo Viera é seu nome e, segundo Ziraldo, ele sozinho teria levado vários anos para concluir todas as telas. Com a ajuda de Paulo, um pintor de singular talento, pôde terminar as 44 telas em apenas 3 anos.
Não nego que fiquei um pouco decepcionado ao saber que Ziraldo tivera ajuda, pois é claro que imaginamos, ao ver uma exposição tão grandiosa como essa, que foram somente dele todas as pinceladas, em todas as telas. Mas, como bem sei, muitos dos grandes pintores sempre tiveram assistentes, ajudantes, a dar pequenos retoques, finalizações nas obras. E como falou Ziraldo, uma só pessoa com essa quantidade de material, levaria realmente muito tempo para terminar. Mas isso levanta uma outra pergunta: por que não fazer uma exposição menor? com menos telas? Por que lançar de uma vez mais de 40 obras, sendo o lado Ziraldo pintor ainda um pouco desconhecido do grande público? Não sei, mas foi justamente por essa razão que o processo teve de ser acelerado, afinal ele comentou na entrevista ao Jô que começara a pintar "mesmo" em 2007.
Voltando à exposição, após passar bons minutos vendo os desenhos e trabalhos antigos, rumei pelo pequeno corredor, em direção à salinha anexa. Lá estavam telas com outra temática: as onomatopeias. Trabalhos intensos, com cores fortes, traços firmes, que literalmente nos atingem em cheio. A iluminação também era muito importante, e havia refletores instalados acima de cada tela, para realçar ainda mais sua intensidade. Gastei mais uns bons minutos ali. O movimento, no geral, era bem bacana, sempre com muitas crianças, acompanhadas de seus pais, ou apenas pessoas que resolveram tirar alguns minutinhos de seu tempo para apreciar uma boa exposição :)
Depois, saimos da sala 1 e eu bem que gostaria de já ter emendado na 2, para ver as obras restantes, e o que mais houvesse por lá, mas já estávamos com pouco tempo, e ainda teríamos que fazer algum lanche até a próxima sessão de curtas do Anima. Tudo bem. O festival terminaria no domingo, e nos só viajaríamos na segunda à noite. Imaginei que passaria a tarde de segunda olhando a exposição com a calma devida. Infelizmente, ficou só na imaginação mesmo.
O problema foi que bem na noite do domingo, após o encerramento do Anima Mundi, fiquei sabendo que o CCBB não abriria na segunda. Foi um baque e tanto. Agora sei que é praxe os Centro Culturais não abrirem às segundas (por funcionarem nos domingos), mas na hora não sabia, e aquilo desmoronou meus planos para o fim da viagem ao Rio. Uma das razões da viagem, que era poder visitar a exposição de Ziraldo, não tinha sido realizada do jeito que eu gostaria. Mesmo tendo estado em um dos espaços, tendo visto metade das obras, eu estava insatisfeito. Um dos grandes defeitos da humanidade: querer-se sempre mais do que se tem.
Nós ainda tentamos adiar a passagem em 1 dia, prorrogando a viagem para a noite de terça, mas pagaríamos uma multa ridiculamente exagerada, além de mais uma diária de hotel e outras despesas. Eu estava inconformado, sim, mas seria demais arcar com tudo isso para passar só mais 1 dia, de fato. E tive afinal que me acostumar à ideia. Mas pensei ainda: "a exposição fica até 19 de setembro. Será que até lá não daria para voltarmos?" e voltamos a Fortaleza.
Essa possibilidade ainda vaga pelos meus pensamentos, agora há 1 mês que chegamos, e faltando 1 mês para encerrar-se a exposição. Mas agora vejo que não é assim tão simples, mesmo os preços dos voos e hospedagem estando mais baratos, uma viagem é sempre uma viagem. Sempre há gastos, e já gastamos significativamente para poder ir pela primeira vez ao Anima Mundi. Só posso esperar que, terminada a exposição no Rio, Ziraldo leve os "Zeróis" para outros cantos do Brasil. Quem sabe eles chegam por aqui, em Fortaleza? É um pouco improvável, sim, mas não impossível.
Ah, agora algumas das telas que mais gostei, abaixo:
E algumas outras para ilustrar:
É isso! foi mesmo muito legal ter podido estar nessa exposição e admirar essa nova empreitada deste grande artista que é o Ziraldo. Ah, para quem não sabe, esta não é a primeira vez que ele mostra seu lado pintor, pois já fez um belíssimo mural no Canecão, lá por volta dos anos 60. Vejam mais sobre isso nesta postagem no blog do próprio Ziraldo (que também vale a pena acompanhar). Voltando à exposição presente, meu irmão, que também é pintor, adorou as telas, também, e até teceu comentários bem técnicos a algumas.
Se você mora no Rio e ainda não foi dar uma olhada, não deixe passar essa oportunidade. Fica no CCBB até o dia 19 de setembro!
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